[Brasil] Faltam pilotos no mercado brasileiro
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[Brasil] Faltam pilotos no mercado brasileiro
Faltam pilotos no mercado brasileiro
Faltam pilotos para aviões e helicópteros e a perspectiva para os
próximos 20 anos não é nada boa, segundo a Organização Internacional de
Aviação Civil (Icao). No Brasil, a demanda é tanta que companhias estão
contratando pilotos recém-formados, ex-integrantes da Força Aérea
Brasileira (FAB) e até “repatriando” brasileiros que foram para o
exterior trabalhar, promovendo-os para voltarem aos céus do país.
Com a aviação civil comercial aquecida, a Icao aponta que, até 2030,
serão necessários mais 517.413 pilotos no mundo – uma necessidade anual
de 52.506 novos comandantes. Só no transporte de passageiros, a previsão
é de que nos próximos 20 anos sejam necessárias mais 39.500 aeronaves
circulando no planeta. Para isso, as companhias aéreas precisarão
contratar mais 460 mil pilotos e 650 mil comissários e técnicos, segundo
estudo da fabricante de aviões Boeing.
Em 2010, o número de pilotos contratados pelas companhias brasileiras
aumentou 23% e o de passageiros transportados subiu 22%. “Algumas
empresas já falam que, em três anos, haverá colapso de falta de pilotos,
não só para linha áerea, mas também para táxi aéreo e aviação
executiva”, diz Marcus Silva Reis, presidente do Conselho Nacional de
Escolas de Aviação e coordenador do curso de ciências aeronáuticas da
Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro.
“O problema é que a aviação está crescendo em ritmo acelerado e não
estamos formando pilotos, comissários e pessoal na mesma velocidade. As
empresas estão disputando piloto a tapa”, acrescenta Reis.
Segundo ele, o alto custo para a formação e a demora na liberação de
licenças são entraves para o crescimento da oferta de pessoal. Todo
piloto que quiser ser remunerado precisa da licença de piloto comercial
(PC), para a qual a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) exige pelo
menos 200 horas de voo (veja tabela abaixo).
Como em um curso o aluno paga entre R$ 220 a R$ 750 por hora voada, a
licença de PC não sai por menos R$ 80 mil, segundo pilotos ouvidos pelo
G1. Hoje, são mais de 14,3 mil pilotos comerciais no país.
Ao ingressarem no mercado, já com o brevê para operar comercialmente,
esses profissionais passam por treinamentos na aeronave em que irão
atuar. São contratados como copilotos, com salário mensal de R$ 6 mil a
R$ 10 mil. Já a remuneração de um piloto, que é o comandante da
aeronave, varia de R$ 12 mil a R$ 25 mil. Algumas empresas pagam mais,
dependendo da aeronave e da especialização necessária.
“Tenho ciência de empresas aéreas que cancelaram voos em junho porque
não tinha piloto. Outra empresa teve que esperar o copiloto desembarcar
de uma ponte-aérea para assumir outro voo. Em abril, a Anac disse que a
demanda cresceu 31% no país. O que vemos é que a aviação cresce em uma
velocidade enorme e o governo não está conseguindo manter as condições
de infraestrutura para isso”, afirma Reis.
Para o comandante Ronaldo Jenkins, ex-piloto comercial e da Força
Aérea Brasileira e hoje diretor do Sindicato Nacional das Empresas
Aeroviárias (Snea), a alternativa seria o mercado absorver mais
rapidamente os militares. “Na maioria dos países, as Forças Armadas
liberam os pilotos para o mercado após 3,5 anos de formação. Isso
acontece nos EUA, na Inglaterra. O custo de formação de um piloto é
muito caro e muitas famílias não têm como pagar. Egressos da Aeronáutica
podem absorver esta escassez”, acredita. No Brasil, a prática é o
prosseguimento de um carreira militar mais longa, de até 3 décadas.
Militares e 'importação'
Pilotos e instrutores dizem que companhias estão contratando
ex-militares e também chegaram a “importar” recentemente brasileiros que
foram voar no exterior, principalmente por companhias do Oriente Médio e
Ásia, promovendo-os. “Um copiloto que voava na Catar Airlines ou na
Emirates ganhando R$ 9 mil veio ser comandante na Azul por R$ 13 mil. A
variação é pequena, mas há mais projeção a longo prazo na carreira”,
disse ao G1 um piloto que voou no Brasil e no exterior.
Tanto a Passaredo quanto a Azul confirmaram a contratação recente de
ex-militares da FAB e a "repatriação" de brasileiros que voavam no
exterior. "A Passaredo contratou pilotos brasileiros que estavam voando
em outros países, e alguns ex-FAB, pois houve a necessidade de se
encontrar pilotos com estas experiências", disse o diretor de operações
da empresa, comandante Paulo Penteado.
De janeiro a maio a Passaredo já contratou mais pilotos e copilotos
do que o total de 2009 e metade de 2010. A previsão é de que as
contratações dobrem em 2012.
O comandante Álvaro Neto, diretor de operações de voo da Azul,
confirma que "já há grande demanda para pilotos comerciais, que deverá
ser crescente nos próximos anos". "Temos contratado alguns pilotos
oriundos da Força Aérea para voarem na empresa, pois entendemos que
estes pilotos possuem uma excelente formação básica teórica e prática",
diz.
A Azul tem hoje 492 pilotos de Embraer 190 e 195 e outros 80 para as
aeronave ATR. Entre 2011 e 2015, a companhia prevê contratar,
anualmente, 250 novos pilotos, conforme o diretor de recursos humanos da
empresa, Johannes Castellano.
Diretor do Sindicato Nacional dos Aeronautas, o comandante Carlos
Camacho acredita que os brasileiros voando no exterior hoje são mais de
650. "É um pessoal tecnicamente muito bem preparado e ganhando bem e
mais experiência a cada dia. São uma enorme reserva técnica para o
Brasil", acredita.
“Faltar piloto no país, pode não faltar. Mas a indústria de
transporte cresce muito e se o mercado não se preparar quanto à formação
de mão de obra especializada, terá problemas”, afirma.
Dificuldades de contratação
As duas maiores companhias nacionais preveem novas contratações, mas
as exigências são altas – experiência de entre 1,5 mil a 6 mil horas de
voo. A TAM, a curto prazo, diz não ver problemas de falta de tripulação,
mas acredita que “com o aquecimento da economia e a chegada de novas
empresas aéreas, poderá ficar mais difícil encontrar pilotos com a
experiência necessária no Brasil”.
“Entendemos que a Anac está sensível a essa questão e em breve o
governo deverá anunciar medidas de incentivo à formação de novos
profissionais”, diz a companhia, que tem mais de 2.293 pilotos e deve
contratar mais 550 tripulantes em 2011.
A Gol, que possui 873 comandantes e 1.117 copilotos, contratou só em
2010 mais 394 copilotos. “Para os próximos anos, o número mudará de
acordo com o crescimento projetado da empresa, em função da chegada de
novas aeronaves e aumento previsto da frota operacional”, afirma
Adalberto Bogsan, vice-presidente técnico da Gol.
As outras companhias aéreas foram procuradas pelo G1, mas não responderam aos questionamentos até o fechamento desta reportagem.
Segundo a Anac, há 123 aeroclubes, 117 escolas e 23 universidades de
aviação no país. A agência não acredita que não haverá falta de pilotos
futuramente e criou projeto de bolsas de estudo em parceria com
aeroclubes em que subsidia a formação.
No início deste ano, o número de pedidos de brevês triplicou em
relação ao ano passado: de 900 processos registrados mensalmente no fim
de 2010, para 3 mil por mês.
Estrangeiros no país
Todos os pilotos e especialistas na área ouvidos pelo G1 são contra a
atuação de pilotos estrangeiros no país. Hoje, isso é proibido pelo
Código Brasileiro de Aeronáutica, que autoriza apenas o emprego de
tripulantes estrangeiros em caráter provisório, na falta de brasileiros,
ou de instrutores por até 6 meses.
Desde 2009, tramita na Câmara o projeto de lei 6.716, que pretende
alterar isso, autorizando a contratação de tripulantes estrangeiros por
até 5 anos.
“O país tem condições de suprir a mão de obra, subsidiando a
formação. Algumas empresas estão fazendo lobby no Congresso para poder
contratar pilotos de fora, do Mercosul ou da África. Mas não precisa
importar estrangeiro, isso pode destruir o mercado nacional”, afirma
Marcus Silva Reis, presidente do conselho nacional de escolas de
aviação.
Por Tahiane Stochero
Fonte: G1
Via: Hangar 20
Faltam pilotos para aviões e helicópteros e a perspectiva para os
próximos 20 anos não é nada boa, segundo a Organização Internacional de
Aviação Civil (Icao). No Brasil, a demanda é tanta que companhias estão
contratando pilotos recém-formados, ex-integrantes da Força Aérea
Brasileira (FAB) e até “repatriando” brasileiros que foram para o
exterior trabalhar, promovendo-os para voltarem aos céus do país.
Com a aviação civil comercial aquecida, a Icao aponta que, até 2030,
serão necessários mais 517.413 pilotos no mundo – uma necessidade anual
de 52.506 novos comandantes. Só no transporte de passageiros, a previsão
é de que nos próximos 20 anos sejam necessárias mais 39.500 aeronaves
circulando no planeta. Para isso, as companhias aéreas precisarão
contratar mais 460 mil pilotos e 650 mil comissários e técnicos, segundo
estudo da fabricante de aviões Boeing.
Em 2010, o número de pilotos contratados pelas companhias brasileiras
aumentou 23% e o de passageiros transportados subiu 22%. “Algumas
empresas já falam que, em três anos, haverá colapso de falta de pilotos,
não só para linha áerea, mas também para táxi aéreo e aviação
executiva”, diz Marcus Silva Reis, presidente do Conselho Nacional de
Escolas de Aviação e coordenador do curso de ciências aeronáuticas da
Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro.
“O problema é que a aviação está crescendo em ritmo acelerado e não
estamos formando pilotos, comissários e pessoal na mesma velocidade. As
empresas estão disputando piloto a tapa”, acrescenta Reis.
Segundo ele, o alto custo para a formação e a demora na liberação de
licenças são entraves para o crescimento da oferta de pessoal. Todo
piloto que quiser ser remunerado precisa da licença de piloto comercial
(PC), para a qual a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) exige pelo
menos 200 horas de voo (veja tabela abaixo).
Como em um curso o aluno paga entre R$ 220 a R$ 750 por hora voada, a
licença de PC não sai por menos R$ 80 mil, segundo pilotos ouvidos pelo
G1. Hoje, são mais de 14,3 mil pilotos comerciais no país.
Ao ingressarem no mercado, já com o brevê para operar comercialmente,
esses profissionais passam por treinamentos na aeronave em que irão
atuar. São contratados como copilotos, com salário mensal de R$ 6 mil a
R$ 10 mil. Já a remuneração de um piloto, que é o comandante da
aeronave, varia de R$ 12 mil a R$ 25 mil. Algumas empresas pagam mais,
dependendo da aeronave e da especialização necessária.
“Tenho ciência de empresas aéreas que cancelaram voos em junho porque
não tinha piloto. Outra empresa teve que esperar o copiloto desembarcar
de uma ponte-aérea para assumir outro voo. Em abril, a Anac disse que a
demanda cresceu 31% no país. O que vemos é que a aviação cresce em uma
velocidade enorme e o governo não está conseguindo manter as condições
de infraestrutura para isso”, afirma Reis.
Para o comandante Ronaldo Jenkins, ex-piloto comercial e da Força
Aérea Brasileira e hoje diretor do Sindicato Nacional das Empresas
Aeroviárias (Snea), a alternativa seria o mercado absorver mais
rapidamente os militares. “Na maioria dos países, as Forças Armadas
liberam os pilotos para o mercado após 3,5 anos de formação. Isso
acontece nos EUA, na Inglaterra. O custo de formação de um piloto é
muito caro e muitas famílias não têm como pagar. Egressos da Aeronáutica
podem absorver esta escassez”, acredita. No Brasil, a prática é o
prosseguimento de um carreira militar mais longa, de até 3 décadas.
Militares e 'importação'
Pilotos e instrutores dizem que companhias estão contratando
ex-militares e também chegaram a “importar” recentemente brasileiros que
foram voar no exterior, principalmente por companhias do Oriente Médio e
Ásia, promovendo-os. “Um copiloto que voava na Catar Airlines ou na
Emirates ganhando R$ 9 mil veio ser comandante na Azul por R$ 13 mil. A
variação é pequena, mas há mais projeção a longo prazo na carreira”,
disse ao G1 um piloto que voou no Brasil e no exterior.
Tanto a Passaredo quanto a Azul confirmaram a contratação recente de
ex-militares da FAB e a "repatriação" de brasileiros que voavam no
exterior. "A Passaredo contratou pilotos brasileiros que estavam voando
em outros países, e alguns ex-FAB, pois houve a necessidade de se
encontrar pilotos com estas experiências", disse o diretor de operações
da empresa, comandante Paulo Penteado.
De janeiro a maio a Passaredo já contratou mais pilotos e copilotos
do que o total de 2009 e metade de 2010. A previsão é de que as
contratações dobrem em 2012.
O comandante Álvaro Neto, diretor de operações de voo da Azul,
confirma que "já há grande demanda para pilotos comerciais, que deverá
ser crescente nos próximos anos". "Temos contratado alguns pilotos
oriundos da Força Aérea para voarem na empresa, pois entendemos que
estes pilotos possuem uma excelente formação básica teórica e prática",
diz.
A Azul tem hoje 492 pilotos de Embraer 190 e 195 e outros 80 para as
aeronave ATR. Entre 2011 e 2015, a companhia prevê contratar,
anualmente, 250 novos pilotos, conforme o diretor de recursos humanos da
empresa, Johannes Castellano.
Diretor do Sindicato Nacional dos Aeronautas, o comandante Carlos
Camacho acredita que os brasileiros voando no exterior hoje são mais de
650. "É um pessoal tecnicamente muito bem preparado e ganhando bem e
mais experiência a cada dia. São uma enorme reserva técnica para o
Brasil", acredita.
“Faltar piloto no país, pode não faltar. Mas a indústria de
transporte cresce muito e se o mercado não se preparar quanto à formação
de mão de obra especializada, terá problemas”, afirma.
Dificuldades de contratação
As duas maiores companhias nacionais preveem novas contratações, mas
as exigências são altas – experiência de entre 1,5 mil a 6 mil horas de
voo. A TAM, a curto prazo, diz não ver problemas de falta de tripulação,
mas acredita que “com o aquecimento da economia e a chegada de novas
empresas aéreas, poderá ficar mais difícil encontrar pilotos com a
experiência necessária no Brasil”.
“Entendemos que a Anac está sensível a essa questão e em breve o
governo deverá anunciar medidas de incentivo à formação de novos
profissionais”, diz a companhia, que tem mais de 2.293 pilotos e deve
contratar mais 550 tripulantes em 2011.
A Gol, que possui 873 comandantes e 1.117 copilotos, contratou só em
2010 mais 394 copilotos. “Para os próximos anos, o número mudará de
acordo com o crescimento projetado da empresa, em função da chegada de
novas aeronaves e aumento previsto da frota operacional”, afirma
Adalberto Bogsan, vice-presidente técnico da Gol.
As outras companhias aéreas foram procuradas pelo G1, mas não responderam aos questionamentos até o fechamento desta reportagem.
Segundo a Anac, há 123 aeroclubes, 117 escolas e 23 universidades de
aviação no país. A agência não acredita que não haverá falta de pilotos
futuramente e criou projeto de bolsas de estudo em parceria com
aeroclubes em que subsidia a formação.
No início deste ano, o número de pedidos de brevês triplicou em
relação ao ano passado: de 900 processos registrados mensalmente no fim
de 2010, para 3 mil por mês.
Estrangeiros no país
Todos os pilotos e especialistas na área ouvidos pelo G1 são contra a
atuação de pilotos estrangeiros no país. Hoje, isso é proibido pelo
Código Brasileiro de Aeronáutica, que autoriza apenas o emprego de
tripulantes estrangeiros em caráter provisório, na falta de brasileiros,
ou de instrutores por até 6 meses.
Desde 2009, tramita na Câmara o projeto de lei 6.716, que pretende
alterar isso, autorizando a contratação de tripulantes estrangeiros por
até 5 anos.
“O país tem condições de suprir a mão de obra, subsidiando a
formação. Algumas empresas estão fazendo lobby no Congresso para poder
contratar pilotos de fora, do Mercosul ou da África. Mas não precisa
importar estrangeiro, isso pode destruir o mercado nacional”, afirma
Marcus Silva Reis, presidente do conselho nacional de escolas de
aviação.
Por Tahiane Stochero
Fonte: G1
Via: Hangar 20
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