A trágica carreira dos DeHavilland Comet 1
+7
Dani.Santoro
Nilo
G.Friedrich
Mario@Doidoni
José Augusto Lima
Edenio Rodrigues
Amilckar
11 participantes
Página 1 de 1
A trágica carreira dos DeHavilland Comet 1
A trágica carreira dos DeHavilland Comet 1
Os motores a jato, durante a Segunda
Guerra Mundial, representaram um dos maiores avanços tecnológicos da
aviação. Mas, por algum tempo, tiveram o seu uso restrito às aeronaves
militares, até que se tornassem confiáveis e duráveis o suficiente para
serem utilizados na aviação civil.
De fato, entre o
final da década de 1940 e começo da de 1950, os fabricantes ingleses
saíram na frente, lançando as primeiras aeronaves comerciais equipadas
com motores a reação: um jato comercial, o DeHavilland Comet 1, e um
turboélice, o Vickers Viscount.
O primeiro
protótipo do Comet 1 voou em 27 de julho de 1949, e menos de três anos
depois, em 2 de maio de 1952, o avião foi colocado em serviço pela
British Overseas Airways Corporation - BOAC.
O impacto tecnológico provocado
pelo jato foi enorme. Sua velocidade era 300 Km/h mais rápida que a dos
melhores aviões de motor a pistão então existentes, os Douglas DC-7 e os
Lockheed Super Constellation. Além disso, os aviões voavam muito mais
alto, acima das turbulências, e seus motores eram de funcionamento muito
mais suave que os grandes motores radiais.
O Comet 1 da
BOAC, matriculado G-ALYP, foi o primeiro jato comercial a levar
passageiros pagantes, voando entre Londres e Johannesburgo, na África do
Sul. O avião foi imediatamente aprovado pelos passageiros, e uma nova
era começava na aviação comercial.
Infelizmente,
não demorou para que os primeiros problemas aparecessem. No dia 26 de
outubro de 1952, menos de seis meses depois do primeiro voo, um Comet 1,
matriculado G-ALYZ, acidentou-se durante a decolagem, no Aeroporto de
Ciampino, em Roma. Os pilotos tentaram decolar antes da hora, e o avião,
sem conseguir ganhar velocidade com o nariz erguido, varou a pista e se
espatifou. Embora apenas dois passageiros tivessem sofrido ferimentos
leves, o avião sofreu danos irreparáveis.
Um acidente
muito parecido ocorreu com um Comet da Canadian Pacific Airlines, o
CF-CUN, no Aeroporto de Karachi, no Paquistão, em 3 de março de 1953. Ao
varar a pista, no entanto, a aeronave canadense encontrou um canal de
drenagem e uma barreira de contenção de aterro no caminho, o que tornou o
acidente muito mais grave. De fato, os cinco tripulantes e seis
passageiros a bordo morreram, as primeira vítimas fatais de um acidente
envolvendo um jato comercial na história.
Ambos os
acidentes foram atribuídos a falhas operacionais. Era trágico, mas de se
esperar, já que tais aeronaves tinham um comportamento muito diferente
dos velhos aviões a pistão. Toda transição oferece seus riscos. Nenhuma
falha foi encontrada nos aviões em si.
Menos de dois
meses depois, em 2 de maio, outro Comet da BOAC, o G-ALYV,
desintegrou-se no ar seis minutos após a decolagem, ao entrar em uma
severa tempestade tropical, perto de Calcutá, na Índia. Todos os 43
ocupantes do avião morreram.
Calcutá também foi palco de um incidente com outro Comet 1, o G-ALYR. Ao taxiar, o piloto verificou que as luzes da taxiway eram muito fracas, o que forçou-o a usar os farois de pouso, alternadamente, para que não superaquecessem.
Ao tirar a mão do volante de steering, durante uma curva
no táxi, para trocar os faróis, a roda do nariz se autoalinhou, e o
avião foi parar fora da taxiway, provocando o colapso do trem de
pouso direito. O avião foi enviado de volta à Grã-Bretanha, para
reparos, que nunca foram feitos, devido aos fatos supervenientes, e
acabou sendo desmontado.
Houve falha
estrutural do avião no caso do G-ALYV. Testemunhas observaram que a asas
do avião separaram-se da fuselagem, que precipitou-se em chamas no
Oceano Índico.
Investigações promovidas pelas
autoridades indianas concluíram que a aeronave sofreu grande fator carga
"G", provocado tanto pelas correntes descendentes dentro de um
aguaceiro quanto por overcontrol pelos pilotos. Ninguém percebeu,
naquela época, que as longarinas das asas, muito aquecidas pelos
motores embutidos na raiz das asas, se enfraqueciam perigosamente.
Como resultado
desse acidente, radares meteorológicos foram introduzidos nas aeronaves,
assim como um sistema para diminuir a sensibilidade dos comandos de
voo, minimizando situações de overcontrol. Os pilotos reclamaram
dessa última modificação, alegando que os comandos passaram a responder
com atraso e lentamente, mas o piloto de testes John Cunninghan rebateu
tais críticas, afirmando que o avião tornou-se mais suave de comando e
mais seguro de se operar.
Mas o pior ainda estava por vir.
Até agora, nada menos que três Comet se perderam em apenas um ano de
operações, mas a reputação do avião não estava arranhada. Os próximos
acidentes, no entanto, iriam modificar dramaticamente essa situação.
O voo BOAC 781, então realizado
pelo G-ALYP, decolou normalmente de Ciampino, Roma, no dia 10 de janeiro
de 1954, mas, onze minutos depois, explodiu sem qualquer razão
aparente, caindo ao largo da Ilha de Elba, no Mar Tirreno, vitimando
todas as 35 pessoas a bordo. Não houve testemunhas, nem chamada de
emergência, nada que indicasse uma emergência ou situação de perigo.
A mídia levantou uma
possibilidade de sabotagem. A investigação preliminar levantou várias
hipóteses, como explosão de vapor de combustível em um tanque vazio, flutter, carga excessiva sobre estruturas fatigadas de asa, descompressão explosiva ou fogo no motor.
A Marinha Real conduziu uma
operação de recuperação dos destroços, e os primeiros pedaços foram
trazidos à tona em 12 de janeiro. Até agosto, cerca de 70 por cento da
estrutura primária, 80 por cento dos motores e 50 por cento dos sistemas
do avião tinham sido recuperados do fundo do mar.
A investigação, levada a cabo pelo Abbel Commitee, não conseguiu chegar a nenhum fator contribuinte decisivo. A
maior suspeita era relacionada com fogo, e modificações foram
planejadas para melhorar a proteção contra o fogo nos motores, que eram
embutidos dentro das asas.
Em 4 de Abril, Lord Brabazon escreveu ao Ministro dos Transportes, "Embora nenhuma razão definitiva para o acidente tenha sido estabelecida, modificações estão sendo incorporados para cobrir qualquer possibilidades que a imaginação tenha sugerido como uma causa provável do desastre. Quando estas modificações forem concluídas e tenham sido satisfatoriamente testadas em vôo, o Conselho não vê razão para que os serviços de passageiros não devam ser retomados. "
Na
verdade, os voos comerciais do Comet 1 já tinham sido retomados alguns
dias antes, em 23 de março de 1954. A carta de Lord Brabazon era somente
uma justificativa para isso.
A
investigação, no entanto, estava no caminho errado. O problema não
estava nos motores e nem nas asas, mas sim na estrutura da fuselagem do
avião. As asas sofriam com o aquecimento dos motores, mas problemas
ainda piores estavam afetando a aeronave
Poucos
dias depois, no entanto, uma nova tragédia acontece com o Comet. Dessa
vez, foi com o Comet G-ALYY, que tinha sido arrendado para voos fretados
para a South African Airways. O voo South African 201 tinha decolado de
Roma, rumo ao Cairo, em um longo voo que tinha como destino final
Johannesburgo. Morreram todas as 21 pessoas a bordo, 14 passageiros e 7
tripulantes.
O
acidente com o G-ALYY foi muito parecido com o acidente que ocorreu ao
largo da Ilha de Elba. Algum problema muito grave estava ocorrendo com
os Comet. O avião foi novamente afastado do serviço, até que a
investigação fosse concluída. A linha de produção também foi paralisada,
e o Certificado de Aeronavegabilidade do Comet foi cassado.
O
Primeiro Ministro, Sir Winston Churchill, encarregou a Marinha Real de
resgatar os destroços do avião, que tinha caído no mar, ao largo de
Nápoles. Um comitê foi formado para fazer uma ampla investigação, muito
mais extensa que as anteriores, que não surtiram qualquer efeito.
A investigação foi muito minunciosa, e não excluiu nenhuma hipótese, dessa vez. Sob o comando de Sir Arnold Hall,
diretor do Royal Aircraft Establishment RAE em Farnborough, a comissão
levantou a hipótese de fadiga estrutural como possível causa dos
acidentes no Mediterrâneo.
Uma grande parte da estrutura recuperada do G-ALYP, que caiu em Elba, e
uma aeronave intacta requisitada da BOAC, o G-ALYU, foram escolhidos
para os ensaios estruturais.
O Comet
intacto, o G-ALYU, foi submetido a uma simulação de esforços repetitivos
de pressurização e despressurização. Sua célula já tinha 1.221 ciclos
quando foi retirada de serviço, e os ensaios foram executados em um
tanque de água, para conter os destroços em caso de explosão da
estrutura. O tanque foi construído ao redor da fuselagem inteira,
ficando somente as asas e a empenagem para fora.
Após
1.836 ciclos simulados no tanque, em 24 de junho de 1954, a fuselagem
do G-ALYU finalmente se rompeu e explodiu dentro do tanque. O tanque foi
drenado, e verificou-se que a falha catastrófica originou-se de um
canto vivo da porta lateral de emergência. A análise dos destroços
constatou danos extensos de fadiga em cantos vivos das janelas
retangulares do avião e em outros pontos como instalações de antenas e
furos de rebites.
A fadiga
de material constatada na estrutura do G-ALYU era muito superior e
prematura que a esperada pelos projetistas. As janelas tinham sido
submetidas, durante o desenvolvimento do avião, a pressões extremas, que
foram suportadas sem maiores problemas. O que não era esperado é que os
cantos vivos originassem tantas trincas devido à fadiga do metal.
Nos
restos da estrutura do G-ALYP, verificou-se que a falha estrutural que
destruiu o avião originou-se de uma janela aberta na fuselagem para a
instalação de uma antena de ADF - Automatic Direction Finder. A
antena e sua base, feita em fibra de vidro, foram fixadas por rebites
nessa janela, e as trincas originaram-se justamente dos furos dos
rebites, abertos com punção, como era comum na época. As trincas
originárias dos furos desses rebites acabaram por comprometer, devido à
fadiga, toda a fuselagem, que literalmente explodiu em voo, dividindo o
avião em vários pedaços. Não houve chance dos pilotos fazerem qualquer
coisa para salvar a aeronave.
Os
testes no tanque, com o G-ALYU, demonstrou que as fuselagens poderiam
se romper a qualquer tempo, entre 1.000 e 9.000 ciclos, sem qualquer
aviso prévio. Quando caiu, o G-ALYP tinha 1.290 ciclos. O G-ALYY tinha
somente 900 ciclos quando explodiu acima do Mediterrâneo. Entretanto,
jamais foram determinadas, com certeza, as falhas estruturais que
levaram à perda do G-ALYY
Em 19 de
outubro de 1954, uma corte de inquérito presidida por Lord Cohen se
reuniu para examinar as causas dos acidentes do Comet em 1954, e os
testes em Farnbourough realmente comprovaram que a estrutura do avião
era perigosa, e que não havia outra solução possível, a não ser a
retirada definitiva do avião de serviço. O revolucionário Comet 1,
primeiro jato comercial da história, estava condenado.
As
células remanescentes foram transformadas em sucata. Componentes das
aeronaves ainda em fase de produção foram utilizadas em protótipos
civis, como os modelos Comet 2 e 3, que nunca chegaram a entrar em
serviço, e programas militares de aeronaves de transporte e
contramedidas eletrônicas, para a RAF - Royal Air Force.
Somente
em 4 de outubro de 1958 um jato De Havilland Comet voltaria a entrar em
serviço no transporte comercial de passageiros, dessa vez no serviço
transatlântico entre Londres e Nova York. O modelo então usado,
denominado Comet 4, tinha uma elegante fuselagem alongada, isenta de
todos os trágicos defeitos que condenaram seu antecessor quatro anos
antes. Tiveram uma longa carreira, e o último avião foi retirado de
serviço somente em 14 de março de 1997.
As
lições aprendidas com os acidentes do Comet 1 em 1954 foram dolorosas,
mas possibilitaram a construção de fuselagens pressurizadas muito mais
seguras. A Boeing, que não conseguiu colocar no mercado um jato
comercial antes dos ingleses, por estar profundamente envolvida nos
programas militares dos bombardeiros B-47 e B-52, aproveitou sabiamente a
experiência dos Comet. O Boeing 707 foi colocado em serviço ativo
alguns dias depois, em 26 de outubro, no serviço transatlântico, pela
rival da BOAC, a Pan Am, e acabou se tornando um sucesso muito maior que
o Comet, que pagou o preço do pioneirismo.
Fonte: Cultura Aeronáutica / Jonas Liasch
Vídeo: The History
Imagens: Google
Os motores a jato, durante a Segunda
Guerra Mundial, representaram um dos maiores avanços tecnológicos da
aviação. Mas, por algum tempo, tiveram o seu uso restrito às aeronaves
militares, até que se tornassem confiáveis e duráveis o suficiente para
serem utilizados na aviação civil.
O Comet I G-ALYV, da BOAC |
final da década de 1940 e começo da de 1950, os fabricantes ingleses
saíram na frente, lançando as primeiras aeronaves comerciais equipadas
com motores a reação: um jato comercial, o DeHavilland Comet 1, e um
turboélice, o Vickers Viscount.
Protótipo do Comet |
protótipo do Comet 1 voou em 27 de julho de 1949, e menos de três anos
depois, em 2 de maio de 1952, o avião foi colocado em serviço pela
British Overseas Airways Corporation - BOAC.
O impacto tecnológico provocado
pelo jato foi enorme. Sua velocidade era 300 Km/h mais rápida que a dos
melhores aviões de motor a pistão então existentes, os Douglas DC-7 e os
Lockheed Super Constellation. Além disso, os aviões voavam muito mais
alto, acima das turbulências, e seus motores eram de funcionamento muito
mais suave que os grandes motores radiais.
Comet I da BOAC em voo |
BOAC, matriculado G-ALYP, foi o primeiro jato comercial a levar
passageiros pagantes, voando entre Londres e Johannesburgo, na África do
Sul. O avião foi imediatamente aprovado pelos passageiros, e uma nova
era começava na aviação comercial.
Decolagem do primeiro voo comercial de passageiros em um avião a jato |
não demorou para que os primeiros problemas aparecessem. No dia 26 de
outubro de 1952, menos de seis meses depois do primeiro voo, um Comet 1,
matriculado G-ALYZ, acidentou-se durante a decolagem, no Aeroporto de
Ciampino, em Roma. Os pilotos tentaram decolar antes da hora, e o avião,
sem conseguir ganhar velocidade com o nariz erguido, varou a pista e se
espatifou. Embora apenas dois passageiros tivessem sofrido ferimentos
leves, o avião sofreu danos irreparáveis.
O G-ALYZ, acidentado em Roma, sem vítimas |
muito parecido ocorreu com um Comet da Canadian Pacific Airlines, o
CF-CUN, no Aeroporto de Karachi, no Paquistão, em 3 de março de 1953. Ao
varar a pista, no entanto, a aeronave canadense encontrou um canal de
drenagem e uma barreira de contenção de aterro no caminho, o que tornou o
acidente muito mais grave. De fato, os cinco tripulantes e seis
passageiros a bordo morreram, as primeira vítimas fatais de um acidente
envolvendo um jato comercial na história.
Comet CF-CUN, da Canadian Pacific |
acidentes foram atribuídos a falhas operacionais. Era trágico, mas de se
esperar, já que tais aeronaves tinham um comportamento muito diferente
dos velhos aviões a pistão. Toda transição oferece seus riscos. Nenhuma
falha foi encontrada nos aviões em si.
Cockpit do Comet 1 |
meses depois, em 2 de maio, outro Comet da BOAC, o G-ALYV,
desintegrou-se no ar seis minutos após a decolagem, ao entrar em uma
severa tempestade tropical, perto de Calcutá, na Índia. Todos os 43
ocupantes do avião morreram.
Calcutá também foi palco de um incidente com outro Comet 1, o G-ALYR. Ao taxiar, o piloto verificou que as luzes da taxiway eram muito fracas, o que forçou-o a usar os farois de pouso, alternadamente, para que não superaquecessem.
O G-ALYR, perdido em um acidente no táxi |
no táxi, para trocar os faróis, a roda do nariz se autoalinhou, e o
avião foi parar fora da taxiway, provocando o colapso do trem de
pouso direito. O avião foi enviado de volta à Grã-Bretanha, para
reparos, que nunca foram feitos, devido aos fatos supervenientes, e
acabou sendo desmontado.
O G-ALYR, enviado para reparos na Grã-Bretanha, jamais foi reparado. |
estrutural do avião no caso do G-ALYV. Testemunhas observaram que a asas
do avião separaram-se da fuselagem, que precipitou-se em chamas no
Oceano Índico.
Investigações promovidas pelas
autoridades indianas concluíram que a aeronave sofreu grande fator carga
"G", provocado tanto pelas correntes descendentes dentro de um
aguaceiro quanto por overcontrol pelos pilotos. Ninguém percebeu,
naquela época, que as longarinas das asas, muito aquecidas pelos
motores embutidos na raiz das asas, se enfraqueciam perigosamente.
Os motores do Comet eram embutidos na raiz da asa |
desse acidente, radares meteorológicos foram introduzidos nas aeronaves,
assim como um sistema para diminuir a sensibilidade dos comandos de
voo, minimizando situações de overcontrol. Os pilotos reclamaram
dessa última modificação, alegando que os comandos passaram a responder
com atraso e lentamente, mas o piloto de testes John Cunninghan rebateu
tais críticas, afirmando que o avião tornou-se mais suave de comando e
mais seguro de se operar.
Mas o pior ainda estava por vir.
Até agora, nada menos que três Comet se perderam em apenas um ano de
operações, mas a reputação do avião não estava arranhada. Os próximos
acidentes, no entanto, iriam modificar dramaticamente essa situação.
O voo BOAC 781, então realizado
pelo G-ALYP, decolou normalmente de Ciampino, Roma, no dia 10 de janeiro
de 1954, mas, onze minutos depois, explodiu sem qualquer razão
aparente, caindo ao largo da Ilha de Elba, no Mar Tirreno, vitimando
todas as 35 pessoas a bordo. Não houve testemunhas, nem chamada de
emergência, nada que indicasse uma emergência ou situação de perigo.
A mídia levantou uma
possibilidade de sabotagem. A investigação preliminar levantou várias
hipóteses, como explosão de vapor de combustível em um tanque vazio, flutter, carga excessiva sobre estruturas fatigadas de asa, descompressão explosiva ou fogo no motor.
A Marinha Real conduziu uma
operação de recuperação dos destroços, e os primeiros pedaços foram
trazidos à tona em 12 de janeiro. Até agosto, cerca de 70 por cento da
estrutura primária, 80 por cento dos motores e 50 por cento dos sistemas
do avião tinham sido recuperados do fundo do mar.
Em cinza, as partes recuperadas dos destroços do G-ALYP |
maior suspeita era relacionada com fogo, e modificações foram
planejadas para melhorar a proteção contra o fogo nos motores, que eram
embutidos dentro das asas.
Em 4 de Abril, Lord Brabazon escreveu ao Ministro dos Transportes, "Embora nenhuma razão definitiva para o acidente tenha sido estabelecida, modificações estão sendo incorporados para cobrir qualquer possibilidades que a imaginação tenha sugerido como uma causa provável do desastre. Quando estas modificações forem concluídas e tenham sido satisfatoriamente testadas em vôo, o Conselho não vê razão para que os serviços de passageiros não devam ser retomados. "
Na
verdade, os voos comerciais do Comet 1 já tinham sido retomados alguns
dias antes, em 23 de março de 1954. A carta de Lord Brabazon era somente
uma justificativa para isso.
A
investigação, no entanto, estava no caminho errado. O problema não
estava nos motores e nem nas asas, mas sim na estrutura da fuselagem do
avião. As asas sofriam com o aquecimento dos motores, mas problemas
ainda piores estavam afetando a aeronave
Poucos
dias depois, no entanto, uma nova tragédia acontece com o Comet. Dessa
vez, foi com o Comet G-ALYY, que tinha sido arrendado para voos fretados
para a South African Airways. O voo South African 201 tinha decolado de
Roma, rumo ao Cairo, em um longo voo que tinha como destino final
Johannesburgo. Morreram todas as 21 pessoas a bordo, 14 passageiros e 7
tripulantes.
O
acidente com o G-ALYY foi muito parecido com o acidente que ocorreu ao
largo da Ilha de Elba. Algum problema muito grave estava ocorrendo com
os Comet. O avião foi novamente afastado do serviço, até que a
investigação fosse concluída. A linha de produção também foi paralisada,
e o Certificado de Aeronavegabilidade do Comet foi cassado.
O
Primeiro Ministro, Sir Winston Churchill, encarregou a Marinha Real de
resgatar os destroços do avião, que tinha caído no mar, ao largo de
Nápoles. Um comitê foi formado para fazer uma ampla investigação, muito
mais extensa que as anteriores, que não surtiram qualquer efeito.
A investigação foi muito minunciosa, e não excluiu nenhuma hipótese, dessa vez. Sob o comando de Sir Arnold Hall,
diretor do Royal Aircraft Establishment RAE em Farnborough, a comissão
levantou a hipótese de fadiga estrutural como possível causa dos
acidentes no Mediterrâneo.
Uma grande parte da estrutura recuperada do G-ALYP, que caiu em Elba, e
uma aeronave intacta requisitada da BOAC, o G-ALYU, foram escolhidos
para os ensaios estruturais.
O Comet
intacto, o G-ALYU, foi submetido a uma simulação de esforços repetitivos
de pressurização e despressurização. Sua célula já tinha 1.221 ciclos
quando foi retirada de serviço, e os ensaios foram executados em um
tanque de água, para conter os destroços em caso de explosão da
estrutura. O tanque foi construído ao redor da fuselagem inteira,
ficando somente as asas e a empenagem para fora.
O G-ALYU no tanque de teste de fadiga |
1.836 ciclos simulados no tanque, em 24 de junho de 1954, a fuselagem
do G-ALYU finalmente se rompeu e explodiu dentro do tanque. O tanque foi
drenado, e verificou-se que a falha catastrófica originou-se de um
canto vivo da porta lateral de emergência. A análise dos destroços
constatou danos extensos de fadiga em cantos vivos das janelas
retangulares do avião e em outros pontos como instalações de antenas e
furos de rebites.
A fadiga
de material constatada na estrutura do G-ALYU era muito superior e
prematura que a esperada pelos projetistas. As janelas tinham sido
submetidas, durante o desenvolvimento do avião, a pressões extremas, que
foram suportadas sem maiores problemas. O que não era esperado é que os
cantos vivos originassem tantas trincas devido à fadiga do metal.
Danos provocados por fadiga nos destroços do G-ALYP |
restos da estrutura do G-ALYP, verificou-se que a falha estrutural que
destruiu o avião originou-se de uma janela aberta na fuselagem para a
instalação de uma antena de ADF - Automatic Direction Finder. A
antena e sua base, feita em fibra de vidro, foram fixadas por rebites
nessa janela, e as trincas originaram-se justamente dos furos dos
rebites, abertos com punção, como era comum na época. As trincas
originárias dos furos desses rebites acabaram por comprometer, devido à
fadiga, toda a fuselagem, que literalmente explodiu em voo, dividindo o
avião em vários pedaços. Não houve chance dos pilotos fazerem qualquer
coisa para salvar a aeronave.
A janela aberta para instalação da antena de ADF do G-ALYP, que provocou a perda da aeronave |
testes no tanque, com o G-ALYU, demonstrou que as fuselagens poderiam
se romper a qualquer tempo, entre 1.000 e 9.000 ciclos, sem qualquer
aviso prévio. Quando caiu, o G-ALYP tinha 1.290 ciclos. O G-ALYY tinha
somente 900 ciclos quando explodiu acima do Mediterrâneo. Entretanto,
jamais foram determinadas, com certeza, as falhas estruturais que
levaram à perda do G-ALYY
Em 19 de
outubro de 1954, uma corte de inquérito presidida por Lord Cohen se
reuniu para examinar as causas dos acidentes do Comet em 1954, e os
testes em Farnbourough realmente comprovaram que a estrutura do avião
era perigosa, e que não havia outra solução possível, a não ser a
retirada definitiva do avião de serviço. O revolucionário Comet 1,
primeiro jato comercial da história, estava condenado.
As
células remanescentes foram transformadas em sucata. Componentes das
aeronaves ainda em fase de produção foram utilizadas em protótipos
civis, como os modelos Comet 2 e 3, que nunca chegaram a entrar em
serviço, e programas militares de aeronaves de transporte e
contramedidas eletrônicas, para a RAF - Royal Air Force.
Raro exemplar do Comet 1, operado pela RAF, no Museu de Cosford, UK |
em 4 de outubro de 1958 um jato De Havilland Comet voltaria a entrar em
serviço no transporte comercial de passageiros, dessa vez no serviço
transatlântico entre Londres e Nova York. O modelo então usado,
denominado Comet 4, tinha uma elegante fuselagem alongada, isenta de
todos os trágicos defeitos que condenaram seu antecessor quatro anos
antes. Tiveram uma longa carreira, e o último avião foi retirado de
serviço somente em 14 de março de 1997.
Boeing 707-121 da Pan Am |
lições aprendidas com os acidentes do Comet 1 em 1954 foram dolorosas,
mas possibilitaram a construção de fuselagens pressurizadas muito mais
seguras. A Boeing, que não conseguiu colocar no mercado um jato
comercial antes dos ingleses, por estar profundamente envolvida nos
programas militares dos bombardeiros B-47 e B-52, aproveitou sabiamente a
experiência dos Comet. O Boeing 707 foi colocado em serviço ativo
alguns dias depois, em 26 de outubro, no serviço transatlântico, pela
rival da BOAC, a Pan Am, e acabou se tornando um sucesso muito maior que
o Comet, que pagou o preço do pioneirismo.
Fonte: Cultura Aeronáutica / Jonas Liasch
Vídeo: The History
Imagens: Google
Amilckar- Colaborador - Notícias de aviação
-
Inscrito em : 12/10/2009
Mensagens : 11036
Reputação : 512
Idade : 59
Simulador preferido : P3D V3
Emprego/lazer : Militar aposentado
Nacionalidade :
Re: A trágica carreira dos DeHavilland Comet 1
Só a titulo de curiosidade, dizem que o principal motivo para construção dos motores a jato, foi a grande quantidade de querosene, um sub produto do refino do petroleo, que na epoca tinha pouca utidade , obrigado Amilckar abraços
_________________
Voar, triunfo da evolução
Stargate (82) 9 8172 9765 (mensagem de texto)
Edenio Rodrigues- Tenente-Brigadeiro
-
Inscrito em : 07/12/2010
Mensagens : 4614
Reputação : 483
Idade : 81
Simulador preferido : P3D
Emprego/lazer : Simulação, energia solar, hidroponia
Nacionalidade :
Re: A trágica carreira dos DeHavilland Comet 1
O como se falou, pagou alto preço pelo pioneirismo....
Re: A trágica carreira dos DeHavilland Comet 1
que triste,nossa fiquei impressionado,mas foi um passo para o iniçio da era do jato na aviaçao comercial,esse aviao sempre me chamou a atençao ,mas não conhecia a historia dele ,valeu
Mario@Doidoni- Major
-
Inscrito em : 02/03/2011
Mensagens : 281
Reputação : 31
Idade : 47
Emprego/lazer : Comunicação Visual,FS9 andar de bike,tomar uma boa cerveja gelada
Nacionalidade :
Re: A trágica carreira dos DeHavilland Comet 1
Já conhecia a historia, A Panair queria comprar o Comet, porem os acidentes fez com que a Panair mudasse de ideia e adiou a entrada na era do jato.
_________________
A única situação em que se tem excesso de combustível, é quando se tem um incêndio a bordo.
G.Friedrich- Tenente-Coronel
-
Inscrito em : 01/03/2011
Mensagens : 850
Reputação : 19
Idade : 42
Emprego/lazer : Oficial do Exercito Brasileiro
Nacionalidade :
Re: A trágica carreira dos DeHavilland Comet 1
Belo tópico Amilckar
porem triste demais essa história
ponto pra ti
porem triste demais essa história
ponto pra ti
Nilo- Brigadeiro
-
Inscrito em : 13/12/2009
Mensagens : 2932
Reputação : 287
Idade : 55
Simulador preferido : FSX - X-Plane11
Emprego/lazer : Bancário/Fotografia e Futebol
Nacionalidade :
Re: A trágica carreira dos DeHavilland Comet 1
Belo tópico, Amilckar.
Não sabia dessa triste história.
Infelizmente, esse é o preço que se paga algumas vezes quando se dá um salto tecnológico.
Não sabia dessa triste história.
Infelizmente, esse é o preço que se paga algumas vezes quando se dá um salto tecnológico.
_________________
Daniel Santoro
Dani.Santoro- Marechal-do-Ar
-
Inscrito em : 07/04/2010
Mensagens : 5051
Reputação : 309
Idade : 44
Simulador preferido : FSX
Nacionalidade :
Re: A trágica carreira dos DeHavilland Comet 1
Não sabia dessa história que cercou o Comet, acho que seria um sucesso para a época se não fossem os problemas ocorridos e claro até a chegada do 707.
_________________
Na vida quanto mais você vive mais você aprende, na aviação quanto mais você aprende mais você vive.
jailton- Coronel
-
Inscrito em : 01/02/2010
Mensagens : 1036
Reputação : 26
Idade : 48
Simulador preferido : FSX
Emprego/lazer : Industria Farmacêutica, cerveja, aviação e automodelismo.
Nacionalidade :
Re: A trágica carreira dos DeHavilland Comet 1
Tópico muito interessante, Amilckar. Obrigado por postar.
_________________
Artur Santos
Voo Virtual
Re: A trágica carreira dos DeHavilland Comet 1
_________________
Placa mãe: Gigabyte GA-970A-DS3P Processador: AMD FX(tm)-8300 8 Cores Memória Ram: 16 GB DDR3 1333 MHz Disco rígido Western Digital 1 Tb Placa de vídeo: Nvidia 1050 Ti 4096 Gb Monitor: LG 24M38H-B 24" Led Sistema Operacional: Arch Linux Joystick: Logitech Extreme 3D Pro
Fontenele- Coronel
-
Inscrito em : 22/07/2011
Mensagens : 1775
Reputação : 234
Idade : 52
Simulador preferido : X-Plane 11
Emprego/lazer : Técnico em Informática
Nacionalidade :
Re: A trágica carreira dos DeHavilland Comet 1
Muito bom Amilckar
Infelizmente é com os acidentes que se aprende a melhorar..
el_lopes- Major-Brigadeiro
-
Inscrito em : 28/04/2010
Mensagens : 3336
Reputação : 139
Idade : 60
Simulador preferido : FS2004
Emprego/lazer : Industria farmaceutica/Cinema,praia,viajar e aviões!
Nacionalidade :
Tópicos semelhantes
» Dehavilland DHC-2 Beaver
» DeHavilland Dash 7 - Freeware
» Tentativa quase trágica para alinhar com a pista
» A trágica história do Boeing menos voado do mundo
» Comet e Caravelle
» DeHavilland Dash 7 - Freeware
» Tentativa quase trágica para alinhar com a pista
» A trágica história do Boeing menos voado do mundo
» Comet e Caravelle
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos