[Brasil]Raios laser ameaçam voos
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[Brasil]Raios laser ameaçam voos
Raios laser ameaçam voos
Brasília tem o maior número de queixas encaminhadas ao Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos sobre feixes de luz jogados em cabines de aviões. A ação criminosa coloca em risco milhares de vidas
Renato Alves
A caneta de laser ganhou popularidade nos anos 1990, em salas de aula e palestras, facilitando a vida de professores e alunos. Mas, vendida até em banca de camelô, ela virou item de brincadeira de mau gosto. Passou a ser apontada a prédios e pessoas. Ganhou as arquibancadas das arenas esportivas, atormentando atletas, principalmente os goleiros. Agora, inferniza pilotos de aviões e helicópteros, colocando em risco milhares de vidas. No Brasil, o perigo é mais iminente na capital. O Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek acumula o maior número de ocorrências sobre feixes de luz verde, azul ou vermelha invadindo cabines de comando. São 81 em sete meses. Alguns provocaram a suspensão de pousos e manobras perigosas das aeronaves.
O laser causa cegueira temporária e outros danos à visão dos pilotos (veja quadro). Os raios também podem distraí-los, ao ponto de causar acidentes. Isso ainda não ocorreu no Distrito Federal nem em outro ponto do país. No entanto, aviões já arremeteram durante procedimento de pouso na capital e em outras cidades brasileiras. Em um dos casos ocorridos nos arredores do terminal candango este ano, um piloto avisou imediatamente a torre de controle. O helicóptero da polícia, que no momento sobrevoava o DF, identificou a origem da luz. O autor responde a processo por crime (veja O que diz a lei). Ele, como a maioria dos donos que usa a caneta com laser para esse fim, mora em uma casa construída sob a rota de pouso do Aeroporto Juscelino Kubitschek.
A prática assusta ainda mais pela velocidade em que crescem os registros oficiais dos pilotos no Brasil. Os relatos começaram a ser contabilizados pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) somente em 2010 (veja Para saber mais). Ao longo de todo o ano passado, o órgão da Aeronáutica recebeu 332 queixas. No primeiro semestre, foram 250. No mesmo período de 2012, houve 771 casos. Com as ocorrências de julho, já são 1.030. Brasília, com mais de 70 registros de janeiro a julho últimos, apontou apenas cinco nos 12 meses de 2011. No entanto, os responsáveis pela segurança em voo no país admitem que a quantidade de ameaças em todo o país é bem maior, pois a maioria dos pilotos vítimas dos raios não comunica o incidente aos órgãos competentes.
Fase delicada
Quase todas as ameaças com laser relatadas ao Cenipa ocorreram quando a aeronave se aproximava do aeroporto para pouso, justamente a parte de maior risco durante o voo. "Uma das fases que mais exige concentração do piloto é a de aproximação do pouso, pois há grande número de checagem de equipamento a ser feita. O laser provoca cegueira momentânea, que dificulta a visualização dos instrumentos", explica o major Márcio Vieira de Mattos, da Divisão de Aviação Civil do Cenipa. Relatório técnico da Boeing mostra que 34% de todos os acidentes fatais ocorridos na década passada com a sua frota mundial de aeronaves comerciais aconteceram no pouso.
O uso indevido e criminoso das canetas a laser também dificulta o trabalho de quem está nas torres de controle dos aeroportos. "É mais uma preocupação para controladores de tráfego aéreo, além dos pilotos. Até então, a maior dor de cabeça eram as rádios piratas, principalmente em São Paulo, pois elas interferem nos equipamentos de comunicação entre torre e aeronaves", comenta o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores na Proteção ao Voo, Jorge Botelho.
Falta punição
Apesar dos riscos iminentes e do canal de denúncias aberto pelo Cenipa, quase não há punição aos criminosos. Em um dos casos ocorridos no ano passado, um piloto avisou imediatamente a torre do Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte. A Polícia Militar enviou um helicóptero, que identificou a origem do laser e informou uma equipe em terra. Ao chegar ao local, os policiais descobriram que o responsável era uma criança e levaram o pai para a delegacia. Tudo não passou de uma advertência. Isso se repetiu em Ribeirão Preto (SP), base da empresa aérea Passaredo, onde os laser também são muito comuns. Com base nas informações dos pilotos atingidos pela luz, o helicóptero da PM paulista apoiou uma viatura e os policiais conseguiram identificar o infrator, um adolescente.
Nos Estados Unidos, o Senado aprovou a inclusão de uma regra na Constituição que tornou crime apontar laser a aeronaves no espaço aéreo do país. Lá também, oito anos atrás, estudos da Federal Aviation Administration (FFA) — entidade governamental responsável pelos regulamentos e todos os aspectos da aviação civil norte-americana — constataram que distrair ou ofuscar pilotos com o uso de canetas laser é perigoso para a aviação. Cientistas realizaram a pesquisa com pilotos profissionais, em simuladores com o uso de canetas a raios laser vendidas em todo o mundo. Quando raios laser atingiam uma aeronave, o piloto via um flash, que o distraia e até o cegava temporariamente.
O que diz a lei
Apontar laser para uma pessoa pode configurar crime, previsto no Artigo 261 do Código Penal, que trata de atos que exponham embarcações ou aeronaves a perigo ou causem dificuldade ou impedimentos à navegação marítima, aérea ou fluvial. Quem for condenado pode pegar de dois a cinco anos de cadeia. Em caso de a brincadeira irresponsável virar tragédia, a punição vai de 4 a 12 anos.
Canal para reclamações
Para identificar os aeroportos mais ameaçados pelas canetas de raios laser e desenvolver ações educativas, o Cenipa criou uma ficha específica on-line para o envio dos relatos, em 2010. Desde então, o piloto-alvo da incidência do laser pode comunicar a ameaça por meio de uma ferramenta prática, pela internet. Para acessá-la, basta entrar no site do órgão da Aeronáutica (www.cenipa.aer.mil.br), clicar no ícone "Comunicação de ocorrências" e, por último, em "Ficha Raio Laser On Line". A iniciativa segue norma da Organização de Aviação Civil Internacional (OACI).
O Cenipa recebeu os cinco primeiros relatos sobre a ameaça dos raios laser no início de 2010. Os registros pioneiros vieram do Aeroporto de Londrina (PR). Em 2011, a mesma cidade foi a mais atingida pela brincadeira de mau gosto, com 111 relatos de pilotos surpreendidos pela luz verde, de maior alcance.
Fonte: Correio Braziliense
Via: NOTIMP
Brasília tem o maior número de queixas encaminhadas ao Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos sobre feixes de luz jogados em cabines de aviões. A ação criminosa coloca em risco milhares de vidas
Renato Alves
A caneta de laser ganhou popularidade nos anos 1990, em salas de aula e palestras, facilitando a vida de professores e alunos. Mas, vendida até em banca de camelô, ela virou item de brincadeira de mau gosto. Passou a ser apontada a prédios e pessoas. Ganhou as arquibancadas das arenas esportivas, atormentando atletas, principalmente os goleiros. Agora, inferniza pilotos de aviões e helicópteros, colocando em risco milhares de vidas. No Brasil, o perigo é mais iminente na capital. O Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek acumula o maior número de ocorrências sobre feixes de luz verde, azul ou vermelha invadindo cabines de comando. São 81 em sete meses. Alguns provocaram a suspensão de pousos e manobras perigosas das aeronaves.
O laser causa cegueira temporária e outros danos à visão dos pilotos (veja quadro). Os raios também podem distraí-los, ao ponto de causar acidentes. Isso ainda não ocorreu no Distrito Federal nem em outro ponto do país. No entanto, aviões já arremeteram durante procedimento de pouso na capital e em outras cidades brasileiras. Em um dos casos ocorridos nos arredores do terminal candango este ano, um piloto avisou imediatamente a torre de controle. O helicóptero da polícia, que no momento sobrevoava o DF, identificou a origem da luz. O autor responde a processo por crime (veja O que diz a lei). Ele, como a maioria dos donos que usa a caneta com laser para esse fim, mora em uma casa construída sob a rota de pouso do Aeroporto Juscelino Kubitschek.
A prática assusta ainda mais pela velocidade em que crescem os registros oficiais dos pilotos no Brasil. Os relatos começaram a ser contabilizados pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) somente em 2010 (veja Para saber mais). Ao longo de todo o ano passado, o órgão da Aeronáutica recebeu 332 queixas. No primeiro semestre, foram 250. No mesmo período de 2012, houve 771 casos. Com as ocorrências de julho, já são 1.030. Brasília, com mais de 70 registros de janeiro a julho últimos, apontou apenas cinco nos 12 meses de 2011. No entanto, os responsáveis pela segurança em voo no país admitem que a quantidade de ameaças em todo o país é bem maior, pois a maioria dos pilotos vítimas dos raios não comunica o incidente aos órgãos competentes.
Fase delicada
Quase todas as ameaças com laser relatadas ao Cenipa ocorreram quando a aeronave se aproximava do aeroporto para pouso, justamente a parte de maior risco durante o voo. "Uma das fases que mais exige concentração do piloto é a de aproximação do pouso, pois há grande número de checagem de equipamento a ser feita. O laser provoca cegueira momentânea, que dificulta a visualização dos instrumentos", explica o major Márcio Vieira de Mattos, da Divisão de Aviação Civil do Cenipa. Relatório técnico da Boeing mostra que 34% de todos os acidentes fatais ocorridos na década passada com a sua frota mundial de aeronaves comerciais aconteceram no pouso.
O uso indevido e criminoso das canetas a laser também dificulta o trabalho de quem está nas torres de controle dos aeroportos. "É mais uma preocupação para controladores de tráfego aéreo, além dos pilotos. Até então, a maior dor de cabeça eram as rádios piratas, principalmente em São Paulo, pois elas interferem nos equipamentos de comunicação entre torre e aeronaves", comenta o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores na Proteção ao Voo, Jorge Botelho.
Falta punição
Apesar dos riscos iminentes e do canal de denúncias aberto pelo Cenipa, quase não há punição aos criminosos. Em um dos casos ocorridos no ano passado, um piloto avisou imediatamente a torre do Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte. A Polícia Militar enviou um helicóptero, que identificou a origem do laser e informou uma equipe em terra. Ao chegar ao local, os policiais descobriram que o responsável era uma criança e levaram o pai para a delegacia. Tudo não passou de uma advertência. Isso se repetiu em Ribeirão Preto (SP), base da empresa aérea Passaredo, onde os laser também são muito comuns. Com base nas informações dos pilotos atingidos pela luz, o helicóptero da PM paulista apoiou uma viatura e os policiais conseguiram identificar o infrator, um adolescente.
Nos Estados Unidos, o Senado aprovou a inclusão de uma regra na Constituição que tornou crime apontar laser a aeronaves no espaço aéreo do país. Lá também, oito anos atrás, estudos da Federal Aviation Administration (FFA) — entidade governamental responsável pelos regulamentos e todos os aspectos da aviação civil norte-americana — constataram que distrair ou ofuscar pilotos com o uso de canetas laser é perigoso para a aviação. Cientistas realizaram a pesquisa com pilotos profissionais, em simuladores com o uso de canetas a raios laser vendidas em todo o mundo. Quando raios laser atingiam uma aeronave, o piloto via um flash, que o distraia e até o cegava temporariamente.
O que diz a lei
Apontar laser para uma pessoa pode configurar crime, previsto no Artigo 261 do Código Penal, que trata de atos que exponham embarcações ou aeronaves a perigo ou causem dificuldade ou impedimentos à navegação marítima, aérea ou fluvial. Quem for condenado pode pegar de dois a cinco anos de cadeia. Em caso de a brincadeira irresponsável virar tragédia, a punição vai de 4 a 12 anos.
Canal para reclamações
Para identificar os aeroportos mais ameaçados pelas canetas de raios laser e desenvolver ações educativas, o Cenipa criou uma ficha específica on-line para o envio dos relatos, em 2010. Desde então, o piloto-alvo da incidência do laser pode comunicar a ameaça por meio de uma ferramenta prática, pela internet. Para acessá-la, basta entrar no site do órgão da Aeronáutica (www.cenipa.aer.mil.br), clicar no ícone "Comunicação de ocorrências" e, por último, em "Ficha Raio Laser On Line". A iniciativa segue norma da Organização de Aviação Civil Internacional (OACI).
O Cenipa recebeu os cinco primeiros relatos sobre a ameaça dos raios laser no início de 2010. Os registros pioneiros vieram do Aeroporto de Londrina (PR). Em 2011, a mesma cidade foi a mais atingida pela brincadeira de mau gosto, com 111 relatos de pilotos surpreendidos pela luz verde, de maior alcance.
Fonte: Correio Braziliense
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