O vôo com o Presidente Juscelino.
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O vôo com o Presidente Juscelino.
Super Constellation PP-VDA
Quando Juscelino Kubitschek foi eleito Presidente do Brasil, decidiu, antes da posse, fazer um giro pelos USA e pela Europa, para visitar as cabeças coroadas desses lugares, por razões políticas e promocionais. Ruben Berta soube desse projeto, e prontamente ofereceu um de nossos Super G para levar JK e sua comitiva, para onde quisesse. A Europa era território da Panair, que atravessava o Atlântico há horas, com seus Constellations anteriores e menores do que o nosso, mas eles “comeram mosca” e foram derrotados pela RG.
Preparamos, pois, esse vôo de tanta responsabilidade, nos mínimos detalhes. Teria uma tripulação selecionada, comandada pelo competente Cmte. Geraldo Knippling, e com uma novidade para nós: Um navegador (o Prof. Rodeck, que trabalhou comigo no Ensino mais tarde), com larga experiência em navegação celestial com a Panair em suas travessias do Atlântico Sul. Tomamos essa precaução porque a travessia do Atlântico Norte, dos USA para a Europa, não tinha recursos de navegação suficientes.
Partimos do Rio com a pequena comitiva de JK e a também pequena comitiva da VARIG, liderada por Berta, e na qual eu me incluía. Nosso destino inicial era a ilha Key West, a mais ocidental e principal ilha do arquipélago das Keys, junto à Flórida, onde se encontrava em férias o Presidente dos USA, Gal. Eisenhower com quem JK se entrevistaria. Lá pousamos numa base da Marinha americana, e enquanto JK foi ao encontro de Ike, nós ficamos no aeroporto limpando e preparando o avião.
Pouco antes do retorno de JK, chegou-se a mim um oficial da Marinha dos USA, que falou: “Nós aqui temos um procedimento protocolar pelo qual a figura mais importante é a última a embarcar. Como é que vocês fazem? ” Eu sabia que nós não tínhamos nada pré-estabelecido para casos assim, mas respondi ao americano: “Nós também! ”, e fui informar a Berta e aos outros que por ali andavam que era melhor embarcarmos antes que JK chegasse, para atender à rotina da Marinha dos USA.
De Key West prosseguimos a New York onde houve também contatos com autoridades. Depois JK foi a Washington e nós da VARIG ficamos em NYC alguns dias à sua espera. Planejamos o vôo para a Europa, mas fomos surpreendidos pela presença de um tremendo mau tempo na rota pelo Atlântico Norte, que obrigou todos os aviões que o atravessariam a ficar no solo aguardando melhora do tempo. Berta, muito preocupado com o sucesso do vôo, e sabendo que nossos tripulantes não tinham experiência nem transoceânica nem nos aeroportos europeus, havia contratado três tripulantes da KLM, um Comandante, um 1º. Oficial e um Mecânico de Vôo, todos experientes nas rotas previstas e no tipo de avião. Nosso Cmte. Geraldo não gostou da medida, mas não teve remédio senão concordar. Como JK tinha datas marcadas para os encontros com os líderes europeus, insistiu em que saíssemos de NYC, a despeito do mau tempo. Então o Comandante da KLM sugeriu que voássemos para o SE, atravessando o oceano de modo a contornarmos a tempestade, e escalando na ilha Santa Maria, dos Açores. À meio caminho, porem, aconteceu o imprevisto: vazara toda a gasolina do tanque central do Super ! Quando Berta soube, ficou muito nervoso e invadiu a cabine de comando, como costumava fazer. O Cmte. Da KLM, alem de tranquilizar todos, dizendo que não havia problemas e que dava para chegar a Santa Maria, expulsou Berta da cabine de comando e fechou a porta com chave!
Pousamos em Santa Maria, abastecemos e dali seguimos para Amsterdam, na Holanda, onde chegamos sem novidades. Dali fomos à Inglaterra, à França, a Luxemburgo, à Alemanha e finalmente à Itália (Roma), onde JK passou para o avião da Panair, que nos acompanhara o tempo todos, na Europa, sempre os dirigentes da Panair querendo que JK passasse para o avião deles, o que só conseguiram, afinal, em Roma.
A comitiva da VARIG aproveitou, em cada um desses lugares, para fazer um pouco de turismo, pois todos nós, com exceção de Erik de Carvalho, nunca havíamos estado na Europa. Em Londres nos esperava uma surpresa: a indústria aeronáutica De Havilland, que estava lançando o primeiro avião a jato do mundo, para o transporte de passageiros, o famoso COMET, nos convidava para visitarmos a fábrica, nos arredores de Londres, e participar de um vôo de demonstração no Comet. Aceitamos de grado o convite, pois tínhamos curiosidade em relação ao Comet, e, ainda que vagamente, esse avião poderia vir a estar nas cogitações da VARIG, pois representava, de certo modo, o provável futuro do transporte aéreo.
Assim, voamos no Comet durante cerca de uma hora, sobre as verdejantes campinas inglesas, encantados com as características do avião, tais como velocidade, altitude em que voava, acima de qualquer mau tempo exceto as grandes CB, e, especial e surpreendentemente, o absoluto silêncio no interior da aeronave. Para nós, avião era coisa inevitavelmente barulhenta, mas no Comet não se ouviam os motores e podia-se conversar em voz normal, sem qualquer interferência.
Infelizmente, como todos sabemos, esses aviões tinham uma deficiência na estrutura que os fazia praticamente explodir a grandes altitudes, representando isso alguns acidentes gravíssimos, que fizeram com que as autoridades aeronáuticas inglesas interditassem os aviões que estavam voando e proibissem suas vendas, dando início a uma detalhada e prolongada investigação que descobriu as causas dos acidentes e fez com que as estruturas dos futuros aviões a jato que voassem a grande altitude e sob grande pressão na cabine, fossem devidamente reforçadas. Muita gente da indústria aeronáutica participou dessa investigação, por liberalidade dos ingleses, e com isso muito aprendendo como deviam fabricar seus futuros aviões à prova de desintegrações. Esse foi o caso do francês Caravelle, que foi construído obedecendo ao que se aprendera com os acidentes dos Comet, e que se revelou um excelente avião que foi a introdução da VARIG e do Brasil na era do jato.
Em Roma a tripulação holandesa nos deixou, e dali regressamos ao Brasil , com tripulação brasileira, via Dakar, na África. Juscelino voltou com a Panair. Nós, da VARIG, muito lucramos com a experiência que nos proporcionou um pouco mais de preparo para o futuro que se avizinhava.
Fica a dica aos apaixonados pela história da aviação de mais um maravilhoso e bem escrito Blog sobre : http://cmtebordini.blogspot.com.br/
Quando Juscelino Kubitschek foi eleito Presidente do Brasil, decidiu, antes da posse, fazer um giro pelos USA e pela Europa, para visitar as cabeças coroadas desses lugares, por razões políticas e promocionais. Ruben Berta soube desse projeto, e prontamente ofereceu um de nossos Super G para levar JK e sua comitiva, para onde quisesse. A Europa era território da Panair, que atravessava o Atlântico há horas, com seus Constellations anteriores e menores do que o nosso, mas eles “comeram mosca” e foram derrotados pela RG.
Preparamos, pois, esse vôo de tanta responsabilidade, nos mínimos detalhes. Teria uma tripulação selecionada, comandada pelo competente Cmte. Geraldo Knippling, e com uma novidade para nós: Um navegador (o Prof. Rodeck, que trabalhou comigo no Ensino mais tarde), com larga experiência em navegação celestial com a Panair em suas travessias do Atlântico Sul. Tomamos essa precaução porque a travessia do Atlântico Norte, dos USA para a Europa, não tinha recursos de navegação suficientes.
Partimos do Rio com a pequena comitiva de JK e a também pequena comitiva da VARIG, liderada por Berta, e na qual eu me incluía. Nosso destino inicial era a ilha Key West, a mais ocidental e principal ilha do arquipélago das Keys, junto à Flórida, onde se encontrava em férias o Presidente dos USA, Gal. Eisenhower com quem JK se entrevistaria. Lá pousamos numa base da Marinha americana, e enquanto JK foi ao encontro de Ike, nós ficamos no aeroporto limpando e preparando o avião.
Pouco antes do retorno de JK, chegou-se a mim um oficial da Marinha dos USA, que falou: “Nós aqui temos um procedimento protocolar pelo qual a figura mais importante é a última a embarcar. Como é que vocês fazem? ” Eu sabia que nós não tínhamos nada pré-estabelecido para casos assim, mas respondi ao americano: “Nós também! ”, e fui informar a Berta e aos outros que por ali andavam que era melhor embarcarmos antes que JK chegasse, para atender à rotina da Marinha dos USA.
De Key West prosseguimos a New York onde houve também contatos com autoridades. Depois JK foi a Washington e nós da VARIG ficamos em NYC alguns dias à sua espera. Planejamos o vôo para a Europa, mas fomos surpreendidos pela presença de um tremendo mau tempo na rota pelo Atlântico Norte, que obrigou todos os aviões que o atravessariam a ficar no solo aguardando melhora do tempo. Berta, muito preocupado com o sucesso do vôo, e sabendo que nossos tripulantes não tinham experiência nem transoceânica nem nos aeroportos europeus, havia contratado três tripulantes da KLM, um Comandante, um 1º. Oficial e um Mecânico de Vôo, todos experientes nas rotas previstas e no tipo de avião. Nosso Cmte. Geraldo não gostou da medida, mas não teve remédio senão concordar. Como JK tinha datas marcadas para os encontros com os líderes europeus, insistiu em que saíssemos de NYC, a despeito do mau tempo. Então o Comandante da KLM sugeriu que voássemos para o SE, atravessando o oceano de modo a contornarmos a tempestade, e escalando na ilha Santa Maria, dos Açores. À meio caminho, porem, aconteceu o imprevisto: vazara toda a gasolina do tanque central do Super ! Quando Berta soube, ficou muito nervoso e invadiu a cabine de comando, como costumava fazer. O Cmte. Da KLM, alem de tranquilizar todos, dizendo que não havia problemas e que dava para chegar a Santa Maria, expulsou Berta da cabine de comando e fechou a porta com chave!
Pousamos em Santa Maria, abastecemos e dali seguimos para Amsterdam, na Holanda, onde chegamos sem novidades. Dali fomos à Inglaterra, à França, a Luxemburgo, à Alemanha e finalmente à Itália (Roma), onde JK passou para o avião da Panair, que nos acompanhara o tempo todos, na Europa, sempre os dirigentes da Panair querendo que JK passasse para o avião deles, o que só conseguiram, afinal, em Roma.
A comitiva da VARIG aproveitou, em cada um desses lugares, para fazer um pouco de turismo, pois todos nós, com exceção de Erik de Carvalho, nunca havíamos estado na Europa. Em Londres nos esperava uma surpresa: a indústria aeronáutica De Havilland, que estava lançando o primeiro avião a jato do mundo, para o transporte de passageiros, o famoso COMET, nos convidava para visitarmos a fábrica, nos arredores de Londres, e participar de um vôo de demonstração no Comet. Aceitamos de grado o convite, pois tínhamos curiosidade em relação ao Comet, e, ainda que vagamente, esse avião poderia vir a estar nas cogitações da VARIG, pois representava, de certo modo, o provável futuro do transporte aéreo.
Assim, voamos no Comet durante cerca de uma hora, sobre as verdejantes campinas inglesas, encantados com as características do avião, tais como velocidade, altitude em que voava, acima de qualquer mau tempo exceto as grandes CB, e, especial e surpreendentemente, o absoluto silêncio no interior da aeronave. Para nós, avião era coisa inevitavelmente barulhenta, mas no Comet não se ouviam os motores e podia-se conversar em voz normal, sem qualquer interferência.
Infelizmente, como todos sabemos, esses aviões tinham uma deficiência na estrutura que os fazia praticamente explodir a grandes altitudes, representando isso alguns acidentes gravíssimos, que fizeram com que as autoridades aeronáuticas inglesas interditassem os aviões que estavam voando e proibissem suas vendas, dando início a uma detalhada e prolongada investigação que descobriu as causas dos acidentes e fez com que as estruturas dos futuros aviões a jato que voassem a grande altitude e sob grande pressão na cabine, fossem devidamente reforçadas. Muita gente da indústria aeronáutica participou dessa investigação, por liberalidade dos ingleses, e com isso muito aprendendo como deviam fabricar seus futuros aviões à prova de desintegrações. Esse foi o caso do francês Caravelle, que foi construído obedecendo ao que se aprendera com os acidentes dos Comet, e que se revelou um excelente avião que foi a introdução da VARIG e do Brasil na era do jato.
Em Roma a tripulação holandesa nos deixou, e dali regressamos ao Brasil , com tripulação brasileira, via Dakar, na África. Juscelino voltou com a Panair. Nós, da VARIG, muito lucramos com a experiência que nos proporcionou um pouco mais de preparo para o futuro que se avizinhava.
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cwbspotter- Tenente-Brigadeiro
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Re: O vôo com o Presidente Juscelino.
Um belo e curioso texto, obrigado Cwbspotter , abraços
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Edenio Rodrigues- Tenente-Brigadeiro
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