[Brasil] Projeto aeronáutico começa a decolar em Minas Gerais
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[Brasil] Projeto aeronáutico começa a decolar em Minas Gerais
Projeto aeronáutico começa a decolar em Minas Gerais
Revista Mercado Edição 40 - março 2011
POR Evaldo Pighini
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Um salto no tempo: do campo de Bagatelle, em 1906, para Tupaciguara, no Triângulo Mineiro, em 2011. Por iniciativa do "Santos Dumont do século XXI", Minas estará presente de novo em mais um capítulo da história da aviação
Quando, no ano de 1906, no Campo de Bagatelle, em Paris, Santos Dumont se tornou o primeiro homem a pilotar uma máquina mais pesada que o ar - o 14 Bis, ele escreveu junto com o seu também o nome de Minas Gerais nos anais da aviação mundial. Alberto Santos Dumont era mineiro, nascido no sítio Cabangu, próximo à cidade que hoje leva o seu nome (na época chamada de Palmira). Agora, há pouco mais de um século, o nome do estado mineiro vai ganhar uma nova citação em mais um capítulo da história da aviação. Isso, graças à iniciativa do engenheiro aeronáutico Daniel Marins Carneiro, que escolheu a cidade de Tupaciguara, no Triângulo Mineiro, para a instalação da empresa Axis Aerospace, de onde fará levantar voo um dos "inventos" mais ousados da aviação brasileira deste início de século: a aeronave AX-2 Tupã. Por causa disso e de seu pioneirismo frente a outros importantes projetos desenvolvidos em favor da indústria aeronáutica brasileira, Daniel Carneiro está sendo chamado por muitos de Santos Dumont do século XXI.
Conforme divulgado, o AX-2 Tupã é um avião subsônico, de seis lugares, comercial e executivo, com características inovadoras, que proporcionará a viabilidade da popularização do transporte aéreo nacional por conjugar características expressivas em termos de redução de custos, aumento de segurança, redução de emissões ambientais e de ruído externo em aeroportos em números nunca antes vistos no mercado mundial. É um projeto que inclusive já está em desenvolvimento.
No final de fevereiro, durante visita a Tupaciguara, o secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais, Nárcio Rodrigues, e o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), professor Mário Neto Borges, anunciaram o encaminhamento da liberação de R$ 700 mil, de um total de R$ 2,2 milhões que cabem ao governo do estado. O recurso, segundo Nárcio, irá para o desenvolvimento do avião Tupã. Outros R$ 5 milhões serão disponibilizados pelo governo federal.
Segundo o professor Mário Neto, o desenvolvimento e a montagem do Tupã em Tupaciguara obedecem à estratégia de tornar Minas um polo aeronáutico no país, que já dispõe de uma fábrica de helicópteros em Itajubá. "Tupaciguara entra como produtora de aeronaves com asa fixa e Itajubá com asa móvel, que são os helicópteros. E o fato da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) oferecer um curso de Engenharia Aeronáutica é mais um ativo de viabilização do projeto", destacou o professor. Uberlândia fica a pouco mais de 60 quilômetros de Tupaciguara. O prefeito Alexandre Berquó ressaltou a importância da instalação da Axis Aerospace no município e destacou ainda os quatro mil empregos, diretos e indiretos, que deverão ser gerados quando a fábrica estiver em pleno funcionamento; em princípio, quando o AX-2 estiver já na linha de montagem.
Em Tupaciguara, provisoriamente a empresa Axis Aerospace está instalada em um galpão localizado no Distrito Industrial onde, num primeiro momento, será montado o protótipo do AX-2 Tupã. Depois, a sede da empresa será transferida para uma área próxima, maior e mais apropriada, onde inclusive será instalada a fábrica de aviões que contará, entre outras coisas, com pista para testes - pousos e decolagens de aeronaves.
A empresa Axis Aerospace tem como objetivo maior o desenvolvimento de tecnologia aeroespacial. A sua criação nasceu de uma iniciativa do engenheiro mecânico-aeronáutico Daniel Marins Carneiro, que tem um extenso currículo de serviços prestados à indústria da aviação brasileira. Agora, com pretensão de alçar voos solos e empreender novos projetos, ele decidiu fundar a Axis Aerospace, e já tem em fase de desenvolvimento o projeto do AX-2 Tupã. Para isso, ele conta com importantes apoios, mas faz questão de frisar que será necessário mais. "Em projetos como esse, é fundamental o trabalho em equipe", ressalta Daniel.
Por enquanto, o fundador da Axis Aerospace prefere falar das parcerias que já têm sacramentadas e que, segundo diz, inicialmente serão suficientes para colocar os seus projetos em andamento. Entre os atuais parceiros, ele destaca primeiramente o apoio da Prefeitura de Tupaciguara que, através do prefeito Alexandre Berquó, desde o início acreditou em seus projetos - da Axis e, consequentemente, do AX-2 Tupã. A Universidade Federal de Uberlândia (UFU) também é citada por Daniel, à qual ele se refere como "uma instituição de excelência de ensino e pesquisa e que tem apoiado imensamente o projeto". No contexto, ele diz ainda que a preocupação com formação de mão de obra especializada também tem sido tratada com a UFU. "A participação da universidade em projetos da Axis, paralelos ao Tupã, está também sendo delineada nesse momento, no que ressalto o envolvimento e o apoio do reitor Alfredo Júlio Fernandes e dos professores Valder Steffen Jr. e Domingos Rade", destaca.
"A participação da universidade em projetos da Axis, paralelos ao Tupã, está também sendo delineada nesse momento, no que ressalto o envolvimento e o apoio do reitor Alfredo Júlio Fernandes e dos professores Valder Steffen Jr. e Domingos Rade"
Daniel Carneiro cita ainda a participação dos governos estadual – Minas Gerais – e federal, que também decidiram dar apoio através da concessão de recursos; isso, após várias análises internas do seu projeto por especialistas. Nesse sentido, o engenheiro acrescenta que está em análise também o financiamento para a construção da futura fábrica da Axis em Tupaciguara, a partir do momento que o AX-2 Tupã estiver pronto para ir à linha de fabricação. “Isso só foi possível pela atitude que tivemos em romper o ciclo em que empresa e governo se desentendem, ou seja, em primeira instância não importam nem as empresas nem os governos, mas sim o país, o Estado brasileiro, o povo brasileiro. Assim, através desse novo entendimento, em prol de um país melhor, pelo menos no tocante ao desenvolvimento da aviação e seus impactos na economia, nasceu essa espécie de parceria entre a Axis e o governo”, ressalta. Ele destaca a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) como importante vertente dessa parceria entre a sua empresa e o governo. A intenção é que a Anac esteja envolvida o mais breve possível no projeto, aliás, uma negociação que já está em estágio adiantado. “Em breve estaremos levando o projeto à Anac de maneira oficial, pois sabemos que antecipar esse relacionamento só trará benefícios”, afirma Daniel.
O “Santos Dumont” do século XXI
E no que depender de credibilidade e competência pessoal do seu gestor, os projetos Axis Aerospace e AX-2 Tupã têm tudo para decolar. Natural de Barra Mansa, município do Rio de Janeiro, Daniel Carneiro é piloto e engenheiro mecânico-aeronáutico, formado pelo Centro de Estudos Aeronáuticos (CEA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 1996. Como engenheiro, tem no currículo relevantes serviços prestados durante anos em prol da indústria aeronáutica brasileira, onde, segundo ele, conviveu com os mais diversos problemas técnicos envolvendo projetos aeronáuticos, incluindo aeronaves de defesa. Nesse período, passou por diversas áreas, tais como Aerodinâmica, Estabilidade & Controle, Ensaios em Voo, Programas e Desenvolvimento Tecnológico.
Daniel Carneiro é também membro da comunidade hipersônica mundial, sendo talvez o único brasileiro isolado ou afiliado a uma empresa a ostentar essa honraria. Existem casos de outros profissionais brasileiros, mas todos ligados ao Instituto de Estudos Avançados (IEAv) - organização Militar do Comando da Aeronáutica com subordinação ao Comando-Geral, atual Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA). A Axis está, inclusive, pleiteando a participação no projeto hipersônico desse instituto com a aeronave "14-X", assim batizada em alusão ao "14-Bis", de Santos Dumont.
Sobre a recém-criada empresa Axis Aerospace e os projetos que dela derivarão, Daniel diz não pretender ficar preso a contextos, entre os quais o lucro. "Não vejo problema em uma empresa ser lucrativa, mas o foco no lucro como fim é que não acho correto. A Axis almeja lucro como meio para o desenvolvimento. Desenvolvimento de si própria, das pessoas que trabalham nela, da comunidade, etc.", ratifica. Ele acrescenta que as suas intenções podem ser resumidas na visão do desejo de colocar Minas Gerais e o Brasil no devido lugar de importância no desenvolvimento da tecnologia aeroespacial, procurando oferecer produtos de qualidade para a sociedade e para o governo, levando desenvolvimento e qualidade de vida para todos.
Sobre esse aspecto, Daniel diz que a AXIS é muito mais um "instituto de pesquisas", e como "instituto de pesquisas" ela está mais para uma "empresa". Isso, segundo ele, significa que existe uma lacuna entre os institutos de pesquisa no país e o desmembramento desses resultados em produtos. "O meu desejo é, portanto, que a AXIS seja uma instituição que promova realizações no setor aeroespacial. A pretensão é fazer coisas interessantes tanto do ponto de vista técnico quanto do ponto de vista da utilidade dessas realizações, ou seja, tornar possíveis produtos diferenciados para aplicações não exploradas".
O subsônico AX-2 Tupã
O AX-2 Tupã é o primeiro, dentre vários outros projetos aeronáuticos, que vai ganhar os céus a partir da indústria da Axis Aerospace, que será instalada em Tupaciguara.
Ousado e inovador, a concepção do AX-2 Tupã é o primeiro projeto de uma série que a Axis Aerospace almeja desenvolver. A ideia inicial desse conceito de aeronave surgiu há cerca de uns 20 anos, como alternativa para elevar a qualidade das aeronaves para até seis ocupantes, seguindo uma concomitante redução de custos, utilizando-se tecnologias modernas e já disponíveis. Segundo Daniel Carneiro, já havia, na época, uma notória percepção da existência - que persiste ainda hoje - de uma enorme lacuna no mercado para esse tipo de aeronave, que deveria ir bem além dos requisitos mínimos até então atendidos. "Assim com eu, muitos engenheiros aeronáuticos estavam cansados de ver aeronaves caras e obsoletas como únicos produtos oferecidos no mercado mundial. E necessitávamos de aprimorar essa visão, de modo que a aeronave da qual estamos falando hoje se tornasse uma realidade", lembra o engenheiro, criador do projeto AX-2 Tupã. Ele destaca que, se de um lado o Brasil conta com excelentes engenheiros aeronáuticos, de outro há muitos empecilhos que impedem um produto com todas as qualidades do Tupã de sair do papel. "Há 20 anos já existia a vontade, mas faltava atitude", completa. Anos depois, após várias análises, tanto de forma qualitativa como quantitativa, a ideia tomou corpo e atingiu o estágio atual. "Ou seja, é um projeto que nasceu faz muito anos e veio trilhando todas as fases de maturação, em vários âmbitos, naturais e necessários para um projeto desse porte e complexidade", ressalta.
Com relação ao nome desse primeiro produto da Axis Aerospace - o projeto do AX-2 Tupã, que está em fase de consolidação -, Daniel Carneiro diz que ele foi pensado também há mais ou menos 20 anos, na mesma época em que já se detectava a necessidade de um avião com tais características que suprisse certa demanda no mercado de aeronaves. Ele observa que a designação "AX-2" significa que esse é o projeto de número dois de uma lista de possíveis produtos da Axis. Já o nome Tupã está relacionado ao seu significado oriundo da língua tupi-guarani, que quer dizer "Deus" ou "Emissário de Deus". Tupã, inclusive, é um nome que Daniel tinha guardado na "gaveta" desde quando trabalhou na criação do projeto para a construção de um avião treinador, de baixo custo, a ser oferecido para a Força Aérea Brasileira. Era esse nome que Daniel pretendia dar à aeronave, mas, por sugestão de um aluno de engenharia, resolveu guardar para outro projeto que tivesse um maior impacto no país. "Agora, está sendo uma feliz coincidência o nome Tupã ser usado para batizar esse projeto que será desenvolvido a partir de uma base na cidade de Tupaciguara, nome que na língua tupi-guarani significa ‘Terra da Mãe de Tupã'", observa.
Tecnicamente falando, o engenheiro aeronáutico Daniel Carneiro, pai do Tupã, descreve o AX-2 como uma aeronave de porte típico da aviação geral, ou aviação de base, de seis ocupantes (com possibilidades para oito), que chega com a pretensão de revolucionar esse segmento, oferecendo melhores índices de desempenho, segurança e drástica redução de custos. Segundo ele, tudo nesse avião foi meticulosamente bem pensado de modo a atender tais expectativas. "Ele foi projetado para ser diferente, melhor, mais eficiente, e ao mesmo tempo ter aparência de uma aeronave convencional. Quando me dizem que a aparência do Tupã não difere da de um jato executivo, não pensem que me aborreço. Muito pelo contrário, fico satisfeito, pois ele foi projetado justamente para ser assim. Desse modo, é melhor absorvido no mercado", esclarece Daniel.
Ele explica que, agora, anos depois que o projeto Tupã começou a ser pensado, um estudo da Agência Aeroespacial Americana NASA (sigla em inglês de National Aeronautics and Space Administration) apontou o que já havia sido constatado em questões relativas à motorização, emissões, etc. Só que a NASA não aborda as diversas questões que um produto desses deve ter para ser um sucesso comercial. Assim, de forma resumida, apesar de o Tupã possuir aparência semelhante à de um jato executivo, existem muitas diferenças em termos de material, motorização e filosofia de projeto. "Nesse sentido, buscamos fazer tudo da melhor maneira, avaliando questões técnicas já esquecidas e buscando o que há de melhor em termos de soluções, de modo a garantir alta qualidade e baixos custos. Não é uma tarefa fácil, ainda mais em um mercado tão complexo como o de hoje", analisa Daniel.
Sob o ponto de vista financeiro, o Tupã promete ser um dos elos para uma nova cadeia de desenvolvimento do país, por levar de modo bastante rápido desenvolvimento econômico através da aviação. O Brasil possui aproximadamente 740 pistas públicas para pouso e decolagem, enquanto nos EUA existem cerca de 5 mil. "Levando-se em conta a equiparação em termos de área territorial e população de ambos os países, podemos constatar o quanto podemos realizar em termos de infraestrutura aeroportuária no Brasil", compara o engenheiro, descrevendo o seguinte ciclo: "Não existe o aeroporto porque não existe o avião adequado, e não existe esse avião porque não existe esse aeroporto". Segundo ele, agora o avião adequado passará a existir. Esse é o Tupã, que possui condições especiais de custo que permitem a atratividade de sua operação, tornando viável a construção de vários aeroportos no país, levando desenvolvimento econômico de forma direta e indireta para cada município de forma acelerada. O Tupã, portanto, rompe o ciclo e passa a ser o vetor dessa grande mudança, o que movimentará, ao todo, bilhões de reais na economia do país.
"Até o momento, toda a iniciativa percebida relacionada ao desenvolvimento da aviação civil no Brasil contempla medidas focadas na aviação de grande porte somente. São aeronaves caras, estruturas caras, operações caras", pondera Daniel. Para ele, não é segredo para ninguém que os principais aeroportos do país estão bastante congestionados, acarretando inúmeros voos com atrasos e outros problemas mais. Isso sem falar nas pessoas que têm que sair de suas cidades de residência, muitas das quais não possuem aeródromos operantes, para pegar voos domésticos em aeroportos maiores de cidades maiores. Isso, entre outros gastos e contratempos, gera maior fluxo de veículos nas rodovias entre os dois destinos. "Coloquemos números baixos: uma hora até o aeroporto, uma hora de espera, uma hora até o destino final, isso acarreta no mínimo três horas perdidas de viagem. Agora, se estivermos falando de um voo regional, de apenas uma hora de duração, a coisa se torna ainda mais absurda", descreve. Segundo ele, com o Tupã em operação, isso tudo pode ser evitado, por se tratar de uma aeronave viável, que permite operação viável em aeroportos viáveis. Além disso, haveria impacto positivo na geração de empregos para funcionários desses aeroportos, controladores de voo e, principalmente, pilotos. Mas tudo em um novo patamar de eficiência. Seria um impacto tremendamente positivo no desenvolvimento econômico do país.
Mercado - Questionado sobre a existência ou não de comércio para o AX-2 Tupã, Daniel lembra que muitas pessoas se referem aos Estados Unidos como o principal mercado para a aviação, o que, segundo ele, é uma "visão viciada, míope e preguiçosa". Na sua opinião, o Brasil, sim, é um dos melhores mercados do mundo. "É ainda um mercado em potencial, mas é extremamente real. É certo que o Tupã terá grande impacto na aviação dos EUA, mas no Brasil será extremamente maior, justamente por facilitar o deslocamento entre municípios do interior do país".
Por enquanto, Daniel Carneiro não quer divulgar uma estimativa de quanto irá custar o AX-2 Tupã quando este estiver em linha de fabricação. Ele adianta apenas que já tem alguns números definidos, mas por causa do projeto estar ainda em fase inicial, qualquer divulgação nesse momento poderia incorrer em falsas expectativas ou especulações desnecessárias. "Apenas posso dizer que o custo de aquisição da aeronave será extremamente competitivo. E mais importante ainda são os custos de operação e manutenção, ainda mais atraentes", salienta.
“A expectativa é de que em três anos e meio o modelo AX-2 Tupã esteja pronto para comercialização”
Mesmo não falando em valores, por outro lado, o engenheiro declara que a “expectativa é de que em três anos e meio o modelo AX-2 Tupã esteja pronto para comercialização. Ele volta a afirmar que o avião irá atender a uma demanda de mercado já esquecida – a de aeronaves de pequeno porte. Acrescenta ainda que em 20 anos a Axis Aerospace almeja comercializar mais de 80 mil unidades do AX-2. “Nesses números aparentemente assustadores e irreais, estão contempladas fatias de mercados já existentes e aquelas devidas à criação de um novo nicho. “Na verdade, as análises indicam números ainda maiores que esses”, justifica, completando com outra informação ainda mais concreta: “Para satisfazer quem gosta de números, existe uma necessidade de renovação da frota geral da aviação, que culminará, dentro de duas décadas, na substituição de 145 mil aeronaves aproximadamente, somente nos EUA”. Segundo Daniel, esses são dados concretos e oficiais da Federal Aviation Administration (FAA), autoridade aeronáutica dos Estados Unidos, isso sem mencionar a quebra de paradigma tecnológico. Ou seja, a existência de uma aeronave que venha trazer significativas melhorias nas questões já abordadas tem um alto índice de aceitação no mercado e em que está previsto, além da criação de um novo nicho, também a migração de usuários de outros segmentos para essa aeronave. “Nossas análises, que vão bem além de pesquisa, nos deixam seguros para afirmar a existência de um grande mercado para o AX-2 Tupã, seja por substituição de frota existente, seja na criação de novo nicho de mercado”, sintetiza.
Para que tudo se concretize conforme o programado, Daniel Carneiro diz ser necessário apenas o entendimento de todos os envolvidos no projeto e o desejo político de fazer isso acontecer, uma vez que não há grandes problemas sob o ponto de vista tecnológico.
“Para que se tenha noção, já existem até clientes interessados em pagar antecipadamente para ter o AX-2, mas ainda é cedo para isso. Mesmo não divulgando a aeronave para venda, um potencial cliente da região do Triângulo Mineiro encomendou 122 unidades, com opção para mais 400. Isso apenas um cliente. Imagine quando divulgarmos a nossa intenção de venda. Agora, imagine a necessidade de pilotos para esses aviões. Temos hoje pilotos para atender a essa demanda? Não. Esse é mais um ponto a ser trabalhado”, afirma.
O projeto AX-2 Tupã, o primeiro a ser implementado pela Axis Aerospace, se divide em duas fases: anteprojeto (fase inicial) e desenvolvimento de produto ou detalhamento. Nesse contexto, é importante distinguir "projeto" de "protótipo". Os recursos solicitados e aprovados até agora são referentes apenas ao projeto da aeronave, ou seja, para execução das atividades de cálculos de engenharia das duas fases mencionadas anteriormente. Os dados do projeto serão utilizados para a confecção do protótipo, mas é importante mencionar que os recursos para a confecção do protótipo em si serão ainda provenientes de repasse posterior, o mesmo acontecendo para a construção e implantação da fábrica. Se tudo ocorrer como planejado, o protótipo deverá estar pronto em dois anos e meio.
Já a produção em série está prevista para um ano a mais, ou seja, em três anos e meio. Conforme planejamento, a produção do AX-2 Tupã começará de forma cadenciada, com cerca de 30 aeronaves, até atingir a capacidade de fabricação de 240 unidades por mês, ou até mais, isso em um prazo máximo de mais dois anos, a partir do início da produção.
A opção por Tupaciguara
Para finalizar, Daniel Carneiro explica o porquê da escolha do município de Tupaciguara para a instalação da empresa de aviões Axis Aerospace e, por consequência, para o desenvolvimento do projeto AX-2 Tupã, o primeiro de uma série de novos projetos ainda mais ousados.
Em primeiro lugar, segundo ele, o desejo era instalar a fábrica no estado onde nasceu Santos Dumont. "Fiz engenharia em Minas Gerais e fui muito bem acolhido aqui. E esse sonho de ter uma fábrica de aviões no estado é um sonho compartilhado por muitos, incluindo um grande mestre que tive, o professor Cláudio Barros, a quem devo muito. Ele foi o fundador do Centro de Estudos Aeronáuticos (CEA) da UFMG", conta.
Inicialmente, ele diz ter esbarrado na falta de apoio político. Havia, sim, a oportunidade de acordos advindos da iniciativa privada, o que ele não queria, por motivos diversos, entre os quais não ter o lucro como objetivo final. Por isso, persistiu e foi bater na porta da única entidade, segundo ele, que poderia fazer as coisas acontecerem na mesma ordem que os seus objetivos: o governo. "Fala-se muito mal dos políticos nesse país, mas eu tinha que encontrar os bons. E consegui, graças a Deus", ressalta Daniel. Foi nesse meio tempo que ele diz ter sido apresentado ao prefeito de Tupaciguara, Alexandre Berquó, que acreditou no empreendimento e se empenhou em levar a Axis Aerospace para o seu município, uma luta que dura mais de dois anos.
Por outro lado, Daniel vê em Tupaciguara alguns atributos tais como localização e topografia privilegiadas. A proximidade com Uberlândia e a existência de um curso de engenharia aeronáutica na UFU são também pontos importantes. "Não sou a melhor pessoa para contar, mas existe a história de que Tupaciguara quase sediou a capital Brasília, perdendo por muito pouco para o lugar onde hoje está o Distrito Federal. Ou seja, existem outros pontos fortes no município", observa. Outro detalhe tem a ver com a proposta do Tupã, que é levar desenvolvimento através da aviação para todos os municípios brasileiros. Assim, por que não começar com a instalação da fábrica em Tupaciguara, que tanto anseia por crescimento?
Além disso, o engenheiro, que por muitos está sendo chamado de Santos Dumont do século XXI, destaca ainda outras pessoas que estão no governo mineiro e são tão visionárias que compartilham dos mesmos objetivos da Axis. A começar pelo professor Mário Neto Borges, presidente da Fapemig, e o secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas, Nárcio Rodrigues. Tem ainda o deputado estadual Zé Maia (PSDB) e o próprio governador Antônio Anastasia. Isso, segundo ele, sem falar de outras instituições, como a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) e o próprio Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que em breve terão participação mais próxima junto ao projeto. Até por isso, Daniel Carneiro diz que o projeto do AX-2 Tupã já deixou de ser um projeto particular seu para pertencer à nação, fato que o deixa extremamente feliz, como ele mesmo confessa.
"O Tupã será apenas o início na contextualização de um polo aeroespacial expressivo em Minas Gerais"
"Enfim, tudo que pleiteamos parece ser simples. E, de certa forma, é. Em teoria. Na prática, o esforço que temos que fazer para que tudo isso se torne uma realidade é muito grande. Mesmo com todo o apoio que estamos tendo, existem dificuldades que muitos não percebem. Podem surgir interesses difusos. Grupos que se sintam de certa forma ameaçados por essas ideias novas. Tudo o que é diferente e traz mudanças causa certo nível de desconforto nas pessoas. Isso gera ainda outros problemas. E por aí vai. Apesar de tudo, no que depender do esforço das pessoas envolvidas, o Tupã será apenas o início na contextualização de um polo aeroespacial expressivo em Minas Gerais", finaliza Daniel Carneiro.
Fonte: Revista Mercado Edição 40 - março 2011
Autor: Evaldo Pighini
Via: flightmarket.com
Revista Mercado Edição 40 - março 2011
POR Evaldo Pighini
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Um salto no tempo: do campo de Bagatelle, em 1906, para Tupaciguara, no Triângulo Mineiro, em 2011. Por iniciativa do "Santos Dumont do século XXI", Minas estará presente de novo em mais um capítulo da história da aviação
Quando, no ano de 1906, no Campo de Bagatelle, em Paris, Santos Dumont se tornou o primeiro homem a pilotar uma máquina mais pesada que o ar - o 14 Bis, ele escreveu junto com o seu também o nome de Minas Gerais nos anais da aviação mundial. Alberto Santos Dumont era mineiro, nascido no sítio Cabangu, próximo à cidade que hoje leva o seu nome (na época chamada de Palmira). Agora, há pouco mais de um século, o nome do estado mineiro vai ganhar uma nova citação em mais um capítulo da história da aviação. Isso, graças à iniciativa do engenheiro aeronáutico Daniel Marins Carneiro, que escolheu a cidade de Tupaciguara, no Triângulo Mineiro, para a instalação da empresa Axis Aerospace, de onde fará levantar voo um dos "inventos" mais ousados da aviação brasileira deste início de século: a aeronave AX-2 Tupã. Por causa disso e de seu pioneirismo frente a outros importantes projetos desenvolvidos em favor da indústria aeronáutica brasileira, Daniel Carneiro está sendo chamado por muitos de Santos Dumont do século XXI.
Conforme divulgado, o AX-2 Tupã é um avião subsônico, de seis lugares, comercial e executivo, com características inovadoras, que proporcionará a viabilidade da popularização do transporte aéreo nacional por conjugar características expressivas em termos de redução de custos, aumento de segurança, redução de emissões ambientais e de ruído externo em aeroportos em números nunca antes vistos no mercado mundial. É um projeto que inclusive já está em desenvolvimento.
No final de fevereiro, durante visita a Tupaciguara, o secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais, Nárcio Rodrigues, e o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), professor Mário Neto Borges, anunciaram o encaminhamento da liberação de R$ 700 mil, de um total de R$ 2,2 milhões que cabem ao governo do estado. O recurso, segundo Nárcio, irá para o desenvolvimento do avião Tupã. Outros R$ 5 milhões serão disponibilizados pelo governo federal.
Segundo o professor Mário Neto, o desenvolvimento e a montagem do Tupã em Tupaciguara obedecem à estratégia de tornar Minas um polo aeronáutico no país, que já dispõe de uma fábrica de helicópteros em Itajubá. "Tupaciguara entra como produtora de aeronaves com asa fixa e Itajubá com asa móvel, que são os helicópteros. E o fato da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) oferecer um curso de Engenharia Aeronáutica é mais um ativo de viabilização do projeto", destacou o professor. Uberlândia fica a pouco mais de 60 quilômetros de Tupaciguara. O prefeito Alexandre Berquó ressaltou a importância da instalação da Axis Aerospace no município e destacou ainda os quatro mil empregos, diretos e indiretos, que deverão ser gerados quando a fábrica estiver em pleno funcionamento; em princípio, quando o AX-2 estiver já na linha de montagem.
Em Tupaciguara, provisoriamente a empresa Axis Aerospace está instalada em um galpão localizado no Distrito Industrial onde, num primeiro momento, será montado o protótipo do AX-2 Tupã. Depois, a sede da empresa será transferida para uma área próxima, maior e mais apropriada, onde inclusive será instalada a fábrica de aviões que contará, entre outras coisas, com pista para testes - pousos e decolagens de aeronaves.
A empresa Axis Aerospace tem como objetivo maior o desenvolvimento de tecnologia aeroespacial. A sua criação nasceu de uma iniciativa do engenheiro mecânico-aeronáutico Daniel Marins Carneiro, que tem um extenso currículo de serviços prestados à indústria da aviação brasileira. Agora, com pretensão de alçar voos solos e empreender novos projetos, ele decidiu fundar a Axis Aerospace, e já tem em fase de desenvolvimento o projeto do AX-2 Tupã. Para isso, ele conta com importantes apoios, mas faz questão de frisar que será necessário mais. "Em projetos como esse, é fundamental o trabalho em equipe", ressalta Daniel.
Por enquanto, o fundador da Axis Aerospace prefere falar das parcerias que já têm sacramentadas e que, segundo diz, inicialmente serão suficientes para colocar os seus projetos em andamento. Entre os atuais parceiros, ele destaca primeiramente o apoio da Prefeitura de Tupaciguara que, através do prefeito Alexandre Berquó, desde o início acreditou em seus projetos - da Axis e, consequentemente, do AX-2 Tupã. A Universidade Federal de Uberlândia (UFU) também é citada por Daniel, à qual ele se refere como "uma instituição de excelência de ensino e pesquisa e que tem apoiado imensamente o projeto". No contexto, ele diz ainda que a preocupação com formação de mão de obra especializada também tem sido tratada com a UFU. "A participação da universidade em projetos da Axis, paralelos ao Tupã, está também sendo delineada nesse momento, no que ressalto o envolvimento e o apoio do reitor Alfredo Júlio Fernandes e dos professores Valder Steffen Jr. e Domingos Rade", destaca.
"A participação da universidade em projetos da Axis, paralelos ao Tupã, está também sendo delineada nesse momento, no que ressalto o envolvimento e o apoio do reitor Alfredo Júlio Fernandes e dos professores Valder Steffen Jr. e Domingos Rade"
Daniel Carneiro cita ainda a participação dos governos estadual – Minas Gerais – e federal, que também decidiram dar apoio através da concessão de recursos; isso, após várias análises internas do seu projeto por especialistas. Nesse sentido, o engenheiro acrescenta que está em análise também o financiamento para a construção da futura fábrica da Axis em Tupaciguara, a partir do momento que o AX-2 Tupã estiver pronto para ir à linha de fabricação. “Isso só foi possível pela atitude que tivemos em romper o ciclo em que empresa e governo se desentendem, ou seja, em primeira instância não importam nem as empresas nem os governos, mas sim o país, o Estado brasileiro, o povo brasileiro. Assim, através desse novo entendimento, em prol de um país melhor, pelo menos no tocante ao desenvolvimento da aviação e seus impactos na economia, nasceu essa espécie de parceria entre a Axis e o governo”, ressalta. Ele destaca a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) como importante vertente dessa parceria entre a sua empresa e o governo. A intenção é que a Anac esteja envolvida o mais breve possível no projeto, aliás, uma negociação que já está em estágio adiantado. “Em breve estaremos levando o projeto à Anac de maneira oficial, pois sabemos que antecipar esse relacionamento só trará benefícios”, afirma Daniel.
O “Santos Dumont” do século XXI
E no que depender de credibilidade e competência pessoal do seu gestor, os projetos Axis Aerospace e AX-2 Tupã têm tudo para decolar. Natural de Barra Mansa, município do Rio de Janeiro, Daniel Carneiro é piloto e engenheiro mecânico-aeronáutico, formado pelo Centro de Estudos Aeronáuticos (CEA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 1996. Como engenheiro, tem no currículo relevantes serviços prestados durante anos em prol da indústria aeronáutica brasileira, onde, segundo ele, conviveu com os mais diversos problemas técnicos envolvendo projetos aeronáuticos, incluindo aeronaves de defesa. Nesse período, passou por diversas áreas, tais como Aerodinâmica, Estabilidade & Controle, Ensaios em Voo, Programas e Desenvolvimento Tecnológico.
Daniel Carneiro é também membro da comunidade hipersônica mundial, sendo talvez o único brasileiro isolado ou afiliado a uma empresa a ostentar essa honraria. Existem casos de outros profissionais brasileiros, mas todos ligados ao Instituto de Estudos Avançados (IEAv) - organização Militar do Comando da Aeronáutica com subordinação ao Comando-Geral, atual Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA). A Axis está, inclusive, pleiteando a participação no projeto hipersônico desse instituto com a aeronave "14-X", assim batizada em alusão ao "14-Bis", de Santos Dumont.
Sobre a recém-criada empresa Axis Aerospace e os projetos que dela derivarão, Daniel diz não pretender ficar preso a contextos, entre os quais o lucro. "Não vejo problema em uma empresa ser lucrativa, mas o foco no lucro como fim é que não acho correto. A Axis almeja lucro como meio para o desenvolvimento. Desenvolvimento de si própria, das pessoas que trabalham nela, da comunidade, etc.", ratifica. Ele acrescenta que as suas intenções podem ser resumidas na visão do desejo de colocar Minas Gerais e o Brasil no devido lugar de importância no desenvolvimento da tecnologia aeroespacial, procurando oferecer produtos de qualidade para a sociedade e para o governo, levando desenvolvimento e qualidade de vida para todos.
Sobre esse aspecto, Daniel diz que a AXIS é muito mais um "instituto de pesquisas", e como "instituto de pesquisas" ela está mais para uma "empresa". Isso, segundo ele, significa que existe uma lacuna entre os institutos de pesquisa no país e o desmembramento desses resultados em produtos. "O meu desejo é, portanto, que a AXIS seja uma instituição que promova realizações no setor aeroespacial. A pretensão é fazer coisas interessantes tanto do ponto de vista técnico quanto do ponto de vista da utilidade dessas realizações, ou seja, tornar possíveis produtos diferenciados para aplicações não exploradas".
O subsônico AX-2 Tupã
O AX-2 Tupã é o primeiro, dentre vários outros projetos aeronáuticos, que vai ganhar os céus a partir da indústria da Axis Aerospace, que será instalada em Tupaciguara.
Ousado e inovador, a concepção do AX-2 Tupã é o primeiro projeto de uma série que a Axis Aerospace almeja desenvolver. A ideia inicial desse conceito de aeronave surgiu há cerca de uns 20 anos, como alternativa para elevar a qualidade das aeronaves para até seis ocupantes, seguindo uma concomitante redução de custos, utilizando-se tecnologias modernas e já disponíveis. Segundo Daniel Carneiro, já havia, na época, uma notória percepção da existência - que persiste ainda hoje - de uma enorme lacuna no mercado para esse tipo de aeronave, que deveria ir bem além dos requisitos mínimos até então atendidos. "Assim com eu, muitos engenheiros aeronáuticos estavam cansados de ver aeronaves caras e obsoletas como únicos produtos oferecidos no mercado mundial. E necessitávamos de aprimorar essa visão, de modo que a aeronave da qual estamos falando hoje se tornasse uma realidade", lembra o engenheiro, criador do projeto AX-2 Tupã. Ele destaca que, se de um lado o Brasil conta com excelentes engenheiros aeronáuticos, de outro há muitos empecilhos que impedem um produto com todas as qualidades do Tupã de sair do papel. "Há 20 anos já existia a vontade, mas faltava atitude", completa. Anos depois, após várias análises, tanto de forma qualitativa como quantitativa, a ideia tomou corpo e atingiu o estágio atual. "Ou seja, é um projeto que nasceu faz muito anos e veio trilhando todas as fases de maturação, em vários âmbitos, naturais e necessários para um projeto desse porte e complexidade", ressalta.
Com relação ao nome desse primeiro produto da Axis Aerospace - o projeto do AX-2 Tupã, que está em fase de consolidação -, Daniel Carneiro diz que ele foi pensado também há mais ou menos 20 anos, na mesma época em que já se detectava a necessidade de um avião com tais características que suprisse certa demanda no mercado de aeronaves. Ele observa que a designação "AX-2" significa que esse é o projeto de número dois de uma lista de possíveis produtos da Axis. Já o nome Tupã está relacionado ao seu significado oriundo da língua tupi-guarani, que quer dizer "Deus" ou "Emissário de Deus". Tupã, inclusive, é um nome que Daniel tinha guardado na "gaveta" desde quando trabalhou na criação do projeto para a construção de um avião treinador, de baixo custo, a ser oferecido para a Força Aérea Brasileira. Era esse nome que Daniel pretendia dar à aeronave, mas, por sugestão de um aluno de engenharia, resolveu guardar para outro projeto que tivesse um maior impacto no país. "Agora, está sendo uma feliz coincidência o nome Tupã ser usado para batizar esse projeto que será desenvolvido a partir de uma base na cidade de Tupaciguara, nome que na língua tupi-guarani significa ‘Terra da Mãe de Tupã'", observa.
Tecnicamente falando, o engenheiro aeronáutico Daniel Carneiro, pai do Tupã, descreve o AX-2 como uma aeronave de porte típico da aviação geral, ou aviação de base, de seis ocupantes (com possibilidades para oito), que chega com a pretensão de revolucionar esse segmento, oferecendo melhores índices de desempenho, segurança e drástica redução de custos. Segundo ele, tudo nesse avião foi meticulosamente bem pensado de modo a atender tais expectativas. "Ele foi projetado para ser diferente, melhor, mais eficiente, e ao mesmo tempo ter aparência de uma aeronave convencional. Quando me dizem que a aparência do Tupã não difere da de um jato executivo, não pensem que me aborreço. Muito pelo contrário, fico satisfeito, pois ele foi projetado justamente para ser assim. Desse modo, é melhor absorvido no mercado", esclarece Daniel.
Ele explica que, agora, anos depois que o projeto Tupã começou a ser pensado, um estudo da Agência Aeroespacial Americana NASA (sigla em inglês de National Aeronautics and Space Administration) apontou o que já havia sido constatado em questões relativas à motorização, emissões, etc. Só que a NASA não aborda as diversas questões que um produto desses deve ter para ser um sucesso comercial. Assim, de forma resumida, apesar de o Tupã possuir aparência semelhante à de um jato executivo, existem muitas diferenças em termos de material, motorização e filosofia de projeto. "Nesse sentido, buscamos fazer tudo da melhor maneira, avaliando questões técnicas já esquecidas e buscando o que há de melhor em termos de soluções, de modo a garantir alta qualidade e baixos custos. Não é uma tarefa fácil, ainda mais em um mercado tão complexo como o de hoje", analisa Daniel.
Sob o ponto de vista financeiro, o Tupã promete ser um dos elos para uma nova cadeia de desenvolvimento do país, por levar de modo bastante rápido desenvolvimento econômico através da aviação. O Brasil possui aproximadamente 740 pistas públicas para pouso e decolagem, enquanto nos EUA existem cerca de 5 mil. "Levando-se em conta a equiparação em termos de área territorial e população de ambos os países, podemos constatar o quanto podemos realizar em termos de infraestrutura aeroportuária no Brasil", compara o engenheiro, descrevendo o seguinte ciclo: "Não existe o aeroporto porque não existe o avião adequado, e não existe esse avião porque não existe esse aeroporto". Segundo ele, agora o avião adequado passará a existir. Esse é o Tupã, que possui condições especiais de custo que permitem a atratividade de sua operação, tornando viável a construção de vários aeroportos no país, levando desenvolvimento econômico de forma direta e indireta para cada município de forma acelerada. O Tupã, portanto, rompe o ciclo e passa a ser o vetor dessa grande mudança, o que movimentará, ao todo, bilhões de reais na economia do país.
"Até o momento, toda a iniciativa percebida relacionada ao desenvolvimento da aviação civil no Brasil contempla medidas focadas na aviação de grande porte somente. São aeronaves caras, estruturas caras, operações caras", pondera Daniel. Para ele, não é segredo para ninguém que os principais aeroportos do país estão bastante congestionados, acarretando inúmeros voos com atrasos e outros problemas mais. Isso sem falar nas pessoas que têm que sair de suas cidades de residência, muitas das quais não possuem aeródromos operantes, para pegar voos domésticos em aeroportos maiores de cidades maiores. Isso, entre outros gastos e contratempos, gera maior fluxo de veículos nas rodovias entre os dois destinos. "Coloquemos números baixos: uma hora até o aeroporto, uma hora de espera, uma hora até o destino final, isso acarreta no mínimo três horas perdidas de viagem. Agora, se estivermos falando de um voo regional, de apenas uma hora de duração, a coisa se torna ainda mais absurda", descreve. Segundo ele, com o Tupã em operação, isso tudo pode ser evitado, por se tratar de uma aeronave viável, que permite operação viável em aeroportos viáveis. Além disso, haveria impacto positivo na geração de empregos para funcionários desses aeroportos, controladores de voo e, principalmente, pilotos. Mas tudo em um novo patamar de eficiência. Seria um impacto tremendamente positivo no desenvolvimento econômico do país.
Mercado - Questionado sobre a existência ou não de comércio para o AX-2 Tupã, Daniel lembra que muitas pessoas se referem aos Estados Unidos como o principal mercado para a aviação, o que, segundo ele, é uma "visão viciada, míope e preguiçosa". Na sua opinião, o Brasil, sim, é um dos melhores mercados do mundo. "É ainda um mercado em potencial, mas é extremamente real. É certo que o Tupã terá grande impacto na aviação dos EUA, mas no Brasil será extremamente maior, justamente por facilitar o deslocamento entre municípios do interior do país".
Por enquanto, Daniel Carneiro não quer divulgar uma estimativa de quanto irá custar o AX-2 Tupã quando este estiver em linha de fabricação. Ele adianta apenas que já tem alguns números definidos, mas por causa do projeto estar ainda em fase inicial, qualquer divulgação nesse momento poderia incorrer em falsas expectativas ou especulações desnecessárias. "Apenas posso dizer que o custo de aquisição da aeronave será extremamente competitivo. E mais importante ainda são os custos de operação e manutenção, ainda mais atraentes", salienta.
“A expectativa é de que em três anos e meio o modelo AX-2 Tupã esteja pronto para comercialização”
Mesmo não falando em valores, por outro lado, o engenheiro declara que a “expectativa é de que em três anos e meio o modelo AX-2 Tupã esteja pronto para comercialização. Ele volta a afirmar que o avião irá atender a uma demanda de mercado já esquecida – a de aeronaves de pequeno porte. Acrescenta ainda que em 20 anos a Axis Aerospace almeja comercializar mais de 80 mil unidades do AX-2. “Nesses números aparentemente assustadores e irreais, estão contempladas fatias de mercados já existentes e aquelas devidas à criação de um novo nicho. “Na verdade, as análises indicam números ainda maiores que esses”, justifica, completando com outra informação ainda mais concreta: “Para satisfazer quem gosta de números, existe uma necessidade de renovação da frota geral da aviação, que culminará, dentro de duas décadas, na substituição de 145 mil aeronaves aproximadamente, somente nos EUA”. Segundo Daniel, esses são dados concretos e oficiais da Federal Aviation Administration (FAA), autoridade aeronáutica dos Estados Unidos, isso sem mencionar a quebra de paradigma tecnológico. Ou seja, a existência de uma aeronave que venha trazer significativas melhorias nas questões já abordadas tem um alto índice de aceitação no mercado e em que está previsto, além da criação de um novo nicho, também a migração de usuários de outros segmentos para essa aeronave. “Nossas análises, que vão bem além de pesquisa, nos deixam seguros para afirmar a existência de um grande mercado para o AX-2 Tupã, seja por substituição de frota existente, seja na criação de novo nicho de mercado”, sintetiza.
Para que tudo se concretize conforme o programado, Daniel Carneiro diz ser necessário apenas o entendimento de todos os envolvidos no projeto e o desejo político de fazer isso acontecer, uma vez que não há grandes problemas sob o ponto de vista tecnológico.
“Para que se tenha noção, já existem até clientes interessados em pagar antecipadamente para ter o AX-2, mas ainda é cedo para isso. Mesmo não divulgando a aeronave para venda, um potencial cliente da região do Triângulo Mineiro encomendou 122 unidades, com opção para mais 400. Isso apenas um cliente. Imagine quando divulgarmos a nossa intenção de venda. Agora, imagine a necessidade de pilotos para esses aviões. Temos hoje pilotos para atender a essa demanda? Não. Esse é mais um ponto a ser trabalhado”, afirma.
O projeto AX-2 Tupã, o primeiro a ser implementado pela Axis Aerospace, se divide em duas fases: anteprojeto (fase inicial) e desenvolvimento de produto ou detalhamento. Nesse contexto, é importante distinguir "projeto" de "protótipo". Os recursos solicitados e aprovados até agora são referentes apenas ao projeto da aeronave, ou seja, para execução das atividades de cálculos de engenharia das duas fases mencionadas anteriormente. Os dados do projeto serão utilizados para a confecção do protótipo, mas é importante mencionar que os recursos para a confecção do protótipo em si serão ainda provenientes de repasse posterior, o mesmo acontecendo para a construção e implantação da fábrica. Se tudo ocorrer como planejado, o protótipo deverá estar pronto em dois anos e meio.
Já a produção em série está prevista para um ano a mais, ou seja, em três anos e meio. Conforme planejamento, a produção do AX-2 Tupã começará de forma cadenciada, com cerca de 30 aeronaves, até atingir a capacidade de fabricação de 240 unidades por mês, ou até mais, isso em um prazo máximo de mais dois anos, a partir do início da produção.
A opção por Tupaciguara
Para finalizar, Daniel Carneiro explica o porquê da escolha do município de Tupaciguara para a instalação da empresa de aviões Axis Aerospace e, por consequência, para o desenvolvimento do projeto AX-2 Tupã, o primeiro de uma série de novos projetos ainda mais ousados.
Em primeiro lugar, segundo ele, o desejo era instalar a fábrica no estado onde nasceu Santos Dumont. "Fiz engenharia em Minas Gerais e fui muito bem acolhido aqui. E esse sonho de ter uma fábrica de aviões no estado é um sonho compartilhado por muitos, incluindo um grande mestre que tive, o professor Cláudio Barros, a quem devo muito. Ele foi o fundador do Centro de Estudos Aeronáuticos (CEA) da UFMG", conta.
Inicialmente, ele diz ter esbarrado na falta de apoio político. Havia, sim, a oportunidade de acordos advindos da iniciativa privada, o que ele não queria, por motivos diversos, entre os quais não ter o lucro como objetivo final. Por isso, persistiu e foi bater na porta da única entidade, segundo ele, que poderia fazer as coisas acontecerem na mesma ordem que os seus objetivos: o governo. "Fala-se muito mal dos políticos nesse país, mas eu tinha que encontrar os bons. E consegui, graças a Deus", ressalta Daniel. Foi nesse meio tempo que ele diz ter sido apresentado ao prefeito de Tupaciguara, Alexandre Berquó, que acreditou no empreendimento e se empenhou em levar a Axis Aerospace para o seu município, uma luta que dura mais de dois anos.
Por outro lado, Daniel vê em Tupaciguara alguns atributos tais como localização e topografia privilegiadas. A proximidade com Uberlândia e a existência de um curso de engenharia aeronáutica na UFU são também pontos importantes. "Não sou a melhor pessoa para contar, mas existe a história de que Tupaciguara quase sediou a capital Brasília, perdendo por muito pouco para o lugar onde hoje está o Distrito Federal. Ou seja, existem outros pontos fortes no município", observa. Outro detalhe tem a ver com a proposta do Tupã, que é levar desenvolvimento através da aviação para todos os municípios brasileiros. Assim, por que não começar com a instalação da fábrica em Tupaciguara, que tanto anseia por crescimento?
Além disso, o engenheiro, que por muitos está sendo chamado de Santos Dumont do século XXI, destaca ainda outras pessoas que estão no governo mineiro e são tão visionárias que compartilham dos mesmos objetivos da Axis. A começar pelo professor Mário Neto Borges, presidente da Fapemig, e o secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas, Nárcio Rodrigues. Tem ainda o deputado estadual Zé Maia (PSDB) e o próprio governador Antônio Anastasia. Isso, segundo ele, sem falar de outras instituições, como a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) e o próprio Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que em breve terão participação mais próxima junto ao projeto. Até por isso, Daniel Carneiro diz que o projeto do AX-2 Tupã já deixou de ser um projeto particular seu para pertencer à nação, fato que o deixa extremamente feliz, como ele mesmo confessa.
"O Tupã será apenas o início na contextualização de um polo aeroespacial expressivo em Minas Gerais"
"Enfim, tudo que pleiteamos parece ser simples. E, de certa forma, é. Em teoria. Na prática, o esforço que temos que fazer para que tudo isso se torne uma realidade é muito grande. Mesmo com todo o apoio que estamos tendo, existem dificuldades que muitos não percebem. Podem surgir interesses difusos. Grupos que se sintam de certa forma ameaçados por essas ideias novas. Tudo o que é diferente e traz mudanças causa certo nível de desconforto nas pessoas. Isso gera ainda outros problemas. E por aí vai. Apesar de tudo, no que depender do esforço das pessoas envolvidas, o Tupã será apenas o início na contextualização de um polo aeroespacial expressivo em Minas Gerais", finaliza Daniel Carneiro.
Fonte: Revista Mercado Edição 40 - março 2011
Autor: Evaldo Pighini
Via: flightmarket.com
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Re: [Brasil] Projeto aeronáutico começa a decolar em Minas Gerais
opa ! olha ai surgindo uma futura boa candidata a enfrentar a EMBRAER ! :Da
** Ah ! Me lembrei, a EMBRAER criou um modelo semelhante, que originou a familia ERJ **
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