[Internacional] Medo e frio a bordo de um hidroavião no Canadá
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[Internacional] Medo e frio a bordo de um hidroavião no Canadá
Medo e frio a bordo de um hidroavião no Canadá
Um passeio radical e congelante e uma aeronave com mais de 60 anos e uma havaiana dançarina
Já ouviu falar do hidroavião canadense DHC-2 “Beaver”? Ele é bem antigo… (Samuel Pantuzo)
Uma vez, conversando com amigos durante um churrasco, desenvolvemos a seguinte teoria: enviar “nudes” pelo celular é como saltar de paraquedas. Pode ser bacana e despertar fortes emoções, mas sempre existe a possibilidade de o paraquedas falhar. É uma brincadeira delicada e com riscos calculados que só termina quando você finalmente chega em terra firme, ou quando a foto é definitivamente apagada. Foi com a sensação de que tudo poderia dar errado a qualquer momento, mas ao mesmo tempo empolgado, que embarquei num voo de hidroavião sobre o Canadá.
Veja também: os carros mais vendidos de 2016
Depois de pegar um ferry-boat de Vancouver para Nanaimo, no outro lado do “Mar de Salish”, eu e meu irmão alugamos um carro e seguimos para uma não longa, mas extremamente demorada viagem até Tofino. A estrada até essa cidade é maravilhosa, mas devido ao terreno montanhoso também é muito sinuosa. Foram quase cinco horas de asfalto e nosso plano era voltar no mesmo dia.
Em Tofino, decidimos entregar o carro alugado depois de uma incrível descoberta: era possível retornar a Vancouver em uma hora, e de hidroavião! Para quem não sabe (eu não sabia até ver), essa região do Canadá tem um trânsito intenso de hidroaviões. Aviões decolam e pousam na água a todo momento levando turistas ou atuando em outras funções. Mas é bem caro.
A região possui uma série de companhias que oferecem esses voos, algumas com aviões bem bonitos e aparentemente em bom estado. Essas empresas também são as que cobram mais caro: o trecho Tofino-Vancouver com a Harbour Air, uma das mais baladas no porto, custava 150 dólares canadenses, algo em torno de R$ 400. Mas nossa grana era curta.
A região ao redor de Vancouver tem um trânsito intenso de hidroaviões (Samuel Pantuzo)
Fomos em todos os guichês espalhados pelo porto, conferindo preço a preço, até encontrar o mais baixo. Com a Tofino Air choramos e ainda conseguimos um desconto. Ficamos sabendo de um concorrente que um avião deles precisa voltar para Vancouver, mesmo vazio. Assim, a brincadeira saiu por 80 dólares.
Até hoje agradeço aos deuses do Mar de Salish por não saber absolutamente nada sobre o avião em que estava prestes a embarcar. A pintura externa estava ok, mas ao entrar na cabine comecei a ter calafrios. O cheiro lembrava o do interior de Fusca (quem conhece sabe que é um odor quase indefectível), os bancos já deviam estar com a 34º capa de revestimento de sua história (e precisando trocar novamente) e o piso de borracha estava tão gasto ao ponto de mostrar a lataria da aeronave. Pobre hidroavião…
Depois descobri que era um DHC-2 “Beaver”, da famosa fabricante De Haviland Canada e um dos hidroaviões mais produzidos de todos os tempos, com cerca de 1.600 unidades. É também uma aeronave bem antiga: foi fabricada entre 1947 e 1967. O modelo que voei, prefixo C-GFLT, saiu da linha de montagem em 1952. Se eu soubesse mais sobre o avião…
O voo com a Tofino Air, com desconto negociado na hora, custou 80 dólares canadenses (Samuel Pantuzo)
Termina logo!
Já na aeronave, com os cintos afivelados, o piloto ligou o motor, liberando uma fumaça preta do lado de fora, e começou a se afastar do pier e girar em direção ao mar. Foi nesse momento que notei uma bonequinha havaiana no topo do painel, “dançando” conforme o avião se deslocava pela água.
Na hora de decolar, o motor roncou alto e o hidroavião foi acelerando rapidamente, como uma lancha, e em poucos segundos já estava voando. No ar, as vibrações terminaram e a bonequinha, que sambou pesado durante a decolagem, agora dançava valsa tranquilamente.
A boneca havaiana dançou diversos ritmos durante o voo até Vancouver (Samuel Pantuzo)
Pensei que o avião faria o caminho mais curto, em linha reta, mas por questões de segurança os voos de hidroavião contornam a península que separa Tofino de Vancouver. Durante o voo, o piloto, que não falava muito e tinha um sotaque canadense quase indecifrável, nos explicou que a região é montanhosa e tem muitas árvores, o que tornaria ainda mais perigoso uma tentativa de pouso de emergência, em especial um hidroavião com flutuadores.
Caminho mais longo: por questões de segurança, os hidroavião não voou sobre a península (Google Maps)
O voo é tranquilo, quase não balança. A unica coisa que incomodou foi o frio. Conforme o avião vai ganhando altitude, a cabine vai congelando. E o piloto só com uma jaquetinha e havaiana, coitada, de saia…
Chegando em Vancouver, com seus prédios que podem ser vistos de longe quando se vem do mar, o hidroavião desceu e iniciou um longo voo a no máximo uns 80 metros da água. Passados cerca de 20 minutos o piloto pediu para eu e meu irmão pararmos de conversar, pois era hora de pousar.
Nos minutos finais do voo, o piloto ora olhava para mar, ora para os instrumentos, sem parar. No momento que pareceu ter encontrado o local do pouso, realizou uma curva suave para esquerda, alinhou para o pouso na água, cortou o motor e levantou o nariz do avião, que imediatamente começou a perder sustentação até… Chuuuuuaaaaaa! Não foi um pouso, foi um mergulho!
O piloto certamente era mais “jovem” que o avião, fabricado em 1952 (Samuel Pantuzo)
Quando toca a água, o hidroavião perde toda velocidade em um instante. É uma frenagem bem violenta. Em seguida, o piloto aponta para o porto de desembarque e encosta no pier. Como a Tofino Air é uma companhia pequena, o ponto dela fica no fundão da Baia de Vancouver.
Se um dia você passear por essa mesma região do Canadá vale a pena fazer o roteiro de hidroavião em vez de optar por liongas viagens de carro e barco. No entanto, para quem tem medo de avião, recomendo apenas voar com alguma companhia com aeronaves mais novas, mesmo se for um pouco mais caro. E não esqueça de levar um agasalho bem pesado!
Fonte: Airway
Um passeio radical e congelante e uma aeronave com mais de 60 anos e uma havaiana dançarina
Já ouviu falar do hidroavião canadense DHC-2 “Beaver”? Ele é bem antigo… (Samuel Pantuzo)
Uma vez, conversando com amigos durante um churrasco, desenvolvemos a seguinte teoria: enviar “nudes” pelo celular é como saltar de paraquedas. Pode ser bacana e despertar fortes emoções, mas sempre existe a possibilidade de o paraquedas falhar. É uma brincadeira delicada e com riscos calculados que só termina quando você finalmente chega em terra firme, ou quando a foto é definitivamente apagada. Foi com a sensação de que tudo poderia dar errado a qualquer momento, mas ao mesmo tempo empolgado, que embarquei num voo de hidroavião sobre o Canadá.
Veja também: os carros mais vendidos de 2016
Depois de pegar um ferry-boat de Vancouver para Nanaimo, no outro lado do “Mar de Salish”, eu e meu irmão alugamos um carro e seguimos para uma não longa, mas extremamente demorada viagem até Tofino. A estrada até essa cidade é maravilhosa, mas devido ao terreno montanhoso também é muito sinuosa. Foram quase cinco horas de asfalto e nosso plano era voltar no mesmo dia.
Em Tofino, decidimos entregar o carro alugado depois de uma incrível descoberta: era possível retornar a Vancouver em uma hora, e de hidroavião! Para quem não sabe (eu não sabia até ver), essa região do Canadá tem um trânsito intenso de hidroaviões. Aviões decolam e pousam na água a todo momento levando turistas ou atuando em outras funções. Mas é bem caro.
A região possui uma série de companhias que oferecem esses voos, algumas com aviões bem bonitos e aparentemente em bom estado. Essas empresas também são as que cobram mais caro: o trecho Tofino-Vancouver com a Harbour Air, uma das mais baladas no porto, custava 150 dólares canadenses, algo em torno de R$ 400. Mas nossa grana era curta.
A região ao redor de Vancouver tem um trânsito intenso de hidroaviões (Samuel Pantuzo)
Fomos em todos os guichês espalhados pelo porto, conferindo preço a preço, até encontrar o mais baixo. Com a Tofino Air choramos e ainda conseguimos um desconto. Ficamos sabendo de um concorrente que um avião deles precisa voltar para Vancouver, mesmo vazio. Assim, a brincadeira saiu por 80 dólares.
Até hoje agradeço aos deuses do Mar de Salish por não saber absolutamente nada sobre o avião em que estava prestes a embarcar. A pintura externa estava ok, mas ao entrar na cabine comecei a ter calafrios. O cheiro lembrava o do interior de Fusca (quem conhece sabe que é um odor quase indefectível), os bancos já deviam estar com a 34º capa de revestimento de sua história (e precisando trocar novamente) e o piso de borracha estava tão gasto ao ponto de mostrar a lataria da aeronave. Pobre hidroavião…
Depois descobri que era um DHC-2 “Beaver”, da famosa fabricante De Haviland Canada e um dos hidroaviões mais produzidos de todos os tempos, com cerca de 1.600 unidades. É também uma aeronave bem antiga: foi fabricada entre 1947 e 1967. O modelo que voei, prefixo C-GFLT, saiu da linha de montagem em 1952. Se eu soubesse mais sobre o avião…
O voo com a Tofino Air, com desconto negociado na hora, custou 80 dólares canadenses (Samuel Pantuzo)
Termina logo!
Já na aeronave, com os cintos afivelados, o piloto ligou o motor, liberando uma fumaça preta do lado de fora, e começou a se afastar do pier e girar em direção ao mar. Foi nesse momento que notei uma bonequinha havaiana no topo do painel, “dançando” conforme o avião se deslocava pela água.
Na hora de decolar, o motor roncou alto e o hidroavião foi acelerando rapidamente, como uma lancha, e em poucos segundos já estava voando. No ar, as vibrações terminaram e a bonequinha, que sambou pesado durante a decolagem, agora dançava valsa tranquilamente.
A boneca havaiana dançou diversos ritmos durante o voo até Vancouver (Samuel Pantuzo)
Pensei que o avião faria o caminho mais curto, em linha reta, mas por questões de segurança os voos de hidroavião contornam a península que separa Tofino de Vancouver. Durante o voo, o piloto, que não falava muito e tinha um sotaque canadense quase indecifrável, nos explicou que a região é montanhosa e tem muitas árvores, o que tornaria ainda mais perigoso uma tentativa de pouso de emergência, em especial um hidroavião com flutuadores.
Caminho mais longo: por questões de segurança, os hidroavião não voou sobre a península (Google Maps)
O voo é tranquilo, quase não balança. A unica coisa que incomodou foi o frio. Conforme o avião vai ganhando altitude, a cabine vai congelando. E o piloto só com uma jaquetinha e havaiana, coitada, de saia…
Chegando em Vancouver, com seus prédios que podem ser vistos de longe quando se vem do mar, o hidroavião desceu e iniciou um longo voo a no máximo uns 80 metros da água. Passados cerca de 20 minutos o piloto pediu para eu e meu irmão pararmos de conversar, pois era hora de pousar.
Nos minutos finais do voo, o piloto ora olhava para mar, ora para os instrumentos, sem parar. No momento que pareceu ter encontrado o local do pouso, realizou uma curva suave para esquerda, alinhou para o pouso na água, cortou o motor e levantou o nariz do avião, que imediatamente começou a perder sustentação até… Chuuuuuaaaaaa! Não foi um pouso, foi um mergulho!
O piloto certamente era mais “jovem” que o avião, fabricado em 1952 (Samuel Pantuzo)
Quando toca a água, o hidroavião perde toda velocidade em um instante. É uma frenagem bem violenta. Em seguida, o piloto aponta para o porto de desembarque e encosta no pier. Como a Tofino Air é uma companhia pequena, o ponto dela fica no fundão da Baia de Vancouver.
Se um dia você passear por essa mesma região do Canadá vale a pena fazer o roteiro de hidroavião em vez de optar por liongas viagens de carro e barco. No entanto, para quem tem medo de avião, recomendo apenas voar com alguma companhia com aeronaves mais novas, mesmo se for um pouco mais caro. E não esqueça de levar um agasalho bem pesado!
Fonte: Airway
Amilckar- Colaborador - Notícias de aviação
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Re: [Internacional] Medo e frio a bordo de um hidroavião no Canadá
Bela aventura, Como foi no meu hidro (virtual) preferido, agora, quando eu for voar, já tenho cheiro de fusca velho para acrescentar para dar mais realismo...
tarcizio- Coronel
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