[Brasil] F-X2: Boeing coloca nova diretora no Brasil para vender o Super Hornet para a FAB
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[Brasil] F-X2: Boeing coloca nova diretora no Brasil para vender o Super Hornet para a FAB
F-X2: Boeing coloca nova diretora no Brasil para vender o Super Hornet para a FAB
Um caça Boeing F/A-18F Super Hornet do VFA-154 Black Knights realiza uma
passagem baixa sobre o porta-aviões USS Ronald Reagan (CVN 76). (Foto:
Mass Communication Specialist 3rd Class Alexander Tidd / U.S. Navy)
A Boeing está de piloto novo no Brasil. Ou melhor, de pilota. A gigante
aeroespacial escolheu a diplomata americana Donna Hrinak, que esteve à frente da embaixada dos Estados Unidos no País entre 2002 e 2004, para a cabine de comando de seu novo escritório em São Paulo. Considerada a maior especialista em Brasil e América Latina que já passou pelo serviço diplomático dos EUA, Donna terá uma missão espinhosa pela frente:
recolocar o caça F/A-18 Super Hornet, fabricado pela empresa, no páreo do arrastado programa FX-2, que prevê a compra de 36 jatos para a Força Aérea Brasileira (FAB), num valor estimado inicialmente entre US$ 5
bilhões e US$ 10 bilhões. “A escolha de Donna demonstra a importância que a Boeing está dando para esse programa”, diz José Barbieri Ferreira,professor de economia da Unicamp.
Em um momento delicado para a companhia, a operação brasileira passa a
representar uma peça crucial para o equilíbrio financeiro da Boeing.
Afinal, o céu no qual a empresa trafega atualmente está longe de ser de
brigadeiro. Na área civil, o atraso de quatro anos na entrada em
operação do 787 Dreamliner – grande aposta da Boeing, com redução de 20%
no consumo de combustível diante dos concorrentes – abriu espaço para
que a arquirrival Airbus ganhasse espaço com seu A380, maior avião
comercial do mundo. Na semana passada, a Boeing anunciou lucro de US$ 1
bilhão no terceiro trimestre deste ano, mas os números foram vistos com
certo ceticismo no mercado. Balanços de fabricantes de aviões de grande
porte são como espelhos retrovisores, pois refletem as entregas de
encomendas já feitas anteriormente. A redução na previsão de entregas de
aeronaves no ano, divulgada no mesmo relatório, reforçou a expectativa
de muitos analistas: a crise nos países desenvolvidos deve levar a uma
drástica queda dos números do setor nos próximos períodos. No segmento
militar, responsável por encomendas de US$ 65 bilhões, no ano passado,
as perspectivas são ainda mais sombrias. O corte de US$ 78 bilhões no
orçamento de Defesa nos EUA – também haverá a necessidade de economizar
outros US$ 100 bilhões – vai afetar o principal cliente da companhia. E
as vacas magras vieram para ficar.
O próprio secretário de Defesa americano, Robert Gates, já admitiu
que a bonança pós-11 de setembro chegou ao fim e que, nos próximos cinco anos, os níveis de gastos serão severamente reduzidos como parte do plano do governo americano de conter seu monstruoso déficit. Para piorar, o
Super Hornet foi eliminado do MMRCA, a maior compra militar do mundo, para a venda de 126 jatos para a Índia. A concorrência brasileira, nesse contexto, aparece como um raio de sol para a Boeing e para a recuperação
das encomendas do Super Hornet. Mais do que vender três dúzias de caças, o negócio representa a chance de ter um cliente fiel pelos próximos 20 a 40 anos, tempo de vida estimado para a frota de aeronaves.
Se o Super Hornet for escolhido, o Brasil vai precisar de peças, manutenção, softwares e armamentos para seus aparelhos, para não falar em novas aquisições. Na FAB, comenta-se que o número de caças em futuras
compras possa ficar entre 80 e 120 unidades, multiplicando o valor inicial aferido no primeiro lote da negociação. Até poucos meses atrás, a Boeing estava atrás na disputa com seus concorrentes, a francesa
Dassault e a sueca Saab. No entanto, a posse da presidente Dilma Rousseff e a exoneração de Nelson Jobim do Ministério da Defesa abalaram severamente o favoritismo do caça francês Rafale. “O jogo do FX-2 foi
interrompido e agora vai recomeçar do zero”, diz Expedito Bastos, especialista em assuntos militares da Universidade Federal de Juiz de Fora. A nomeação de Donna para o cargo representa um novo posicionamento da Boeing nesse jogo.
Antes, a empresa apostava apenas em uma eventual superioridade técnica do Super Hornet e acabou ficando para trás. “Não se vence uma disputa dessa só com o lado técnico”, diz Fernando Arbache, presidente
da Arbache Consultoria e consultor de assuntos militares. “Os aspectos políticos e comerciais são fundamentais.” É justamente esse lado político o ponto forte da ex-embaixadora. Bem-humorada e dotada de uma
postura liberal, Donna difere muito de figuras femininas de ferro da política americana, como Hillary Clinton e Condoleezza Rice. “A atuação dela é mais discreta”, diz um analista da política de Brasília que conviveu com ela. “Ela gosta de construir consensos e maiorias longe dos holofotes.” Com português fluente e uma agenda recheada de
contatos, ela deverá iniciar uma maratona junto a militares, políticos e empresários do setor para mostrar as virtudes do Super Hornet. É nesse sentido que se entende a primeira iniciativa pública de Donna: o anúncio
de uma parceria com a Embraer e com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para desenvolver biocombustíveis para aviação. A fabricante brasileira produz o Ipanema, voltado para o
mercado agrícola, primeira aeronave do mundo a ser certificada para voar com etanol como combustível.
“Faz todo o sentido a Boeing se aproximar da Embraer”, diz um especialista do setor. “Elas não concorrem e podem colaborar em vários projetos importantes uma com a outra.” O ponto fraco da Boeing na disputa ainda é o receio existente no Brasil de que os EUA vetem a transferência de tecnologias sensíveis ao Brasil. E poucas coisas são
tão sensíveis e sujeitas às mudanças de ventos políticos quanto o equipamento militar de última geração. Tentando dissipar esse temor, a empresa investiu fundo no lobby: colocou um simulador de voo do Hornet
na entrada do Congresso, na capital federal, e promoveu uma turnê de alguns de seus principais executivos pelo Brasil em agosto. “Não há motivo para preocupação”, afirmou Christopher Chadwick, presidente da
unidade de aeronaves militares da Boeing, na época. “O Congresso americano já aprovou antecipadamente a transferência de tecnologia.” No entanto, como relembra um especialista em assuntos militares, essa
autorização política não significa muita coisa na prática. “Eles trabalham muito com códigos fechados”, diz. Caberá à nova comandante da Boeing driblar essas turbulências e colocar a empresa em voo de cruzeiro no Brasil.
Fonte: Istoé Dinheiro – Marcelo Cabral
Via: Cavok
Um caça Boeing F/A-18F Super Hornet do VFA-154 Black Knights realiza uma
passagem baixa sobre o porta-aviões USS Ronald Reagan (CVN 76). (Foto:
Mass Communication Specialist 3rd Class Alexander Tidd / U.S. Navy)
A Boeing está de piloto novo no Brasil. Ou melhor, de pilota. A gigante
aeroespacial escolheu a diplomata americana Donna Hrinak, que esteve à frente da embaixada dos Estados Unidos no País entre 2002 e 2004, para a cabine de comando de seu novo escritório em São Paulo. Considerada a maior especialista em Brasil e América Latina que já passou pelo serviço diplomático dos EUA, Donna terá uma missão espinhosa pela frente:
recolocar o caça F/A-18 Super Hornet, fabricado pela empresa, no páreo do arrastado programa FX-2, que prevê a compra de 36 jatos para a Força Aérea Brasileira (FAB), num valor estimado inicialmente entre US$ 5
bilhões e US$ 10 bilhões. “A escolha de Donna demonstra a importância que a Boeing está dando para esse programa”, diz José Barbieri Ferreira,professor de economia da Unicamp.
Em um momento delicado para a companhia, a operação brasileira passa a
representar uma peça crucial para o equilíbrio financeiro da Boeing.
Afinal, o céu no qual a empresa trafega atualmente está longe de ser de
brigadeiro. Na área civil, o atraso de quatro anos na entrada em
operação do 787 Dreamliner – grande aposta da Boeing, com redução de 20%
no consumo de combustível diante dos concorrentes – abriu espaço para
que a arquirrival Airbus ganhasse espaço com seu A380, maior avião
comercial do mundo. Na semana passada, a Boeing anunciou lucro de US$ 1
bilhão no terceiro trimestre deste ano, mas os números foram vistos com
certo ceticismo no mercado. Balanços de fabricantes de aviões de grande
porte são como espelhos retrovisores, pois refletem as entregas de
encomendas já feitas anteriormente. A redução na previsão de entregas de
aeronaves no ano, divulgada no mesmo relatório, reforçou a expectativa
de muitos analistas: a crise nos países desenvolvidos deve levar a uma
drástica queda dos números do setor nos próximos períodos. No segmento
militar, responsável por encomendas de US$ 65 bilhões, no ano passado,
as perspectivas são ainda mais sombrias. O corte de US$ 78 bilhões no
orçamento de Defesa nos EUA – também haverá a necessidade de economizar
outros US$ 100 bilhões – vai afetar o principal cliente da companhia. E
as vacas magras vieram para ficar.
O próprio secretário de Defesa americano, Robert Gates, já admitiu
que a bonança pós-11 de setembro chegou ao fim e que, nos próximos cinco anos, os níveis de gastos serão severamente reduzidos como parte do plano do governo americano de conter seu monstruoso déficit. Para piorar, o
Super Hornet foi eliminado do MMRCA, a maior compra militar do mundo, para a venda de 126 jatos para a Índia. A concorrência brasileira, nesse contexto, aparece como um raio de sol para a Boeing e para a recuperação
das encomendas do Super Hornet. Mais do que vender três dúzias de caças, o negócio representa a chance de ter um cliente fiel pelos próximos 20 a 40 anos, tempo de vida estimado para a frota de aeronaves.
Se o Super Hornet for escolhido, o Brasil vai precisar de peças, manutenção, softwares e armamentos para seus aparelhos, para não falar em novas aquisições. Na FAB, comenta-se que o número de caças em futuras
compras possa ficar entre 80 e 120 unidades, multiplicando o valor inicial aferido no primeiro lote da negociação. Até poucos meses atrás, a Boeing estava atrás na disputa com seus concorrentes, a francesa
Dassault e a sueca Saab. No entanto, a posse da presidente Dilma Rousseff e a exoneração de Nelson Jobim do Ministério da Defesa abalaram severamente o favoritismo do caça francês Rafale. “O jogo do FX-2 foi
interrompido e agora vai recomeçar do zero”, diz Expedito Bastos, especialista em assuntos militares da Universidade Federal de Juiz de Fora. A nomeação de Donna para o cargo representa um novo posicionamento da Boeing nesse jogo.
Antes, a empresa apostava apenas em uma eventual superioridade técnica do Super Hornet e acabou ficando para trás. “Não se vence uma disputa dessa só com o lado técnico”, diz Fernando Arbache, presidente
da Arbache Consultoria e consultor de assuntos militares. “Os aspectos políticos e comerciais são fundamentais.” É justamente esse lado político o ponto forte da ex-embaixadora. Bem-humorada e dotada de uma
postura liberal, Donna difere muito de figuras femininas de ferro da política americana, como Hillary Clinton e Condoleezza Rice. “A atuação dela é mais discreta”, diz um analista da política de Brasília que conviveu com ela. “Ela gosta de construir consensos e maiorias longe dos holofotes.” Com português fluente e uma agenda recheada de
contatos, ela deverá iniciar uma maratona junto a militares, políticos e empresários do setor para mostrar as virtudes do Super Hornet. É nesse sentido que se entende a primeira iniciativa pública de Donna: o anúncio
de uma parceria com a Embraer e com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para desenvolver biocombustíveis para aviação. A fabricante brasileira produz o Ipanema, voltado para o
mercado agrícola, primeira aeronave do mundo a ser certificada para voar com etanol como combustível.
“Faz todo o sentido a Boeing se aproximar da Embraer”, diz um especialista do setor. “Elas não concorrem e podem colaborar em vários projetos importantes uma com a outra.” O ponto fraco da Boeing na disputa ainda é o receio existente no Brasil de que os EUA vetem a transferência de tecnologias sensíveis ao Brasil. E poucas coisas são
tão sensíveis e sujeitas às mudanças de ventos políticos quanto o equipamento militar de última geração. Tentando dissipar esse temor, a empresa investiu fundo no lobby: colocou um simulador de voo do Hornet
na entrada do Congresso, na capital federal, e promoveu uma turnê de alguns de seus principais executivos pelo Brasil em agosto. “Não há motivo para preocupação”, afirmou Christopher Chadwick, presidente da
unidade de aeronaves militares da Boeing, na época. “O Congresso americano já aprovou antecipadamente a transferência de tecnologia.” No entanto, como relembra um especialista em assuntos militares, essa
autorização política não significa muita coisa na prática. “Eles trabalham muito com códigos fechados”, diz. Caberá à nova comandante da Boeing driblar essas turbulências e colocar a empresa em voo de cruzeiro no Brasil.
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